“Gosto mais de ver futebol, mas sinto mais o futsal”
Filipe Costa, presidente do FC Differdange 03, não esconde o gosto que tem pelo futsal, sobretudo quando é o seu clube, onde também já foi jogador e treinador.
Em pequeno tinha o sonho de ser jogador de futebol, mas também respondeu que “quem é que era o puto que gosta de futebol e não queria?”, mesmo tendo percebido que não tinha capacidade para isso. Agora, com 33 anos, Filipe Costa é presidente do “Dif”.
Juntamente com Umberto Cruz, membro da direção, Filipe esteve associado a outro clube, o Players Sud, que jogava na liga belga e que mais tarde se associou ao Differdange. O Players Sud fundiu-se com o clube de futebol da aldeia e em 2014/2015 passou a existir apenas o FC Differdange 03, sendo Filipe Costa treinador.
Apesar de ser da direção, o ex-treinador sente muito o jogo e é um adepto fervoroso da equipa. Mas sabe distinguir bem quando tem de ser o adepto e quando tem de ser o presidente. “Tento ter uma capacidade misturada porque o adepto diz tudo, e eu sou uma pessoa que sinto muito o jogo”, não esconde Filipe Costa acerca do seu feitio. “Depois do jogo tento falar de uma forma mais racional, mais fria. Se for comunicar com os jogadores ou com os técnicos, às vezes espero um ou dois dias, de cabeça fria”.
O “Dif” tem já vários jogadores que vieram da primeira divisão de futsal de Portugal. Clubes como o Braga, o Benfica, o Sporting ou o Rio Ave são grandes clubes portugueses onde a direção “vai buscar” jogadores para virem para o Luxemburgo, e alguns até já representaram a seleção. “Partimos sempre com referências de treinadores, vídeos, etc.”, esclarece Filipe de como descobre os jogadores.
“A maior parte eram apenas jogadores de futsal profissional em Portugal. Nós aqui é que não podemos dar condições para serem apenas jogadores, e aí entra o Remy Manso com os contactos para os restaurantes”. Sendo a restauração uma área que precisa de muito pessoal, o clube recruta vários jogadores para colaborarem nos restaurantes do Manso Group e para jogarem futsal.
Filipe Costa acredita que as condições não só monetárias que dá aos jogadores faz com que muitos deles não queiram voltar para Portugal. “Eu acho que não há nenhum ou quase nenhum que tenha vindo e que queira ir embora”, admite o presidente. “Mesmo que Portugal seja muito bonito e muito fixe, nas condições atuais, como estão, ninguém se vê outra vez a voltar para Portugal”.
Em Portugal, um jogador profissional de futsal não ganha muito bem, e com a associação que o clube e a restauração do Manso Group têm, conseguem pagar aos jogadores um valor melhor que o atual salário médio em Portugal. “Ao nível de condições para as crianças também é top, e nós também damos muito apoio nisso”, remata Filipe Costa, reforçando que não são apenas as questões monetárias que contam.
Para já, Filipe está também em processo de conseguir ter formação de futsal, mas não está a ser fácil, mesmo com procura na terra. “Não faltam pedidos. Gostava de apostar mas sou o único. São 20 clubes, se os outros não têm formação, contra quem é que jogávamos?”. Para além disso, não seria fácil ao nível de disponibilidade do espaço, já que “os pavilhões estão super lotados com todos os desportos (basquetebol, andebol, etc.)”.
O diretor refere também que não há muito apoio da federação. “Saiu agora um plano estratégico para os próximos cinco anos, falou de futebol, de mulheres, de jovens. Não falou de futsal”, remata Filipe. “E temos um potencial do caraças, mas como é um desporto muito orientado pela comunidade portuguesa eles descartam muito. Se metade deles se chamassem “Müllers”, ou um nome qualquer luxemburguês, eles já tinham seleção”, reforça a afirmação de que a federação luxemburguesa de futebol descarta o potencial do desporto indoor.
Contudo, não sente que a separação entre portugueses e luxemburgueses se esteja a acentuar. “Cada vez mais o português convive com o luxemburguês, e o luxemburguês cada vez tem mais vontade de ir a Portugal e adora”, admite o técnico do Dif.
Filipe Costa sabe que o trabalho que tem envolve responsabilidade e a definição de muitas vidas, mas sabe que tem de agir bem tanto pela parte humana como pela reputação, que, caso se prejudique, “vem contra ti” segundo o técnico. “Embora sejamos jovens, já estamos nisto há 10 anos e já temos maturidade para saber o que estamos a fazer. Quando começámos isto, tínhamos 23/24 anos”, salientou.
Tanto Filipe como a direção perceberam que estavam a “tomar decisões sobre a vida de pessoas, a falar de vidas, de crianças e disseram logo ‘isto não é brincar com humanos, são pessoas como nós, têm famílias, nunca na vida vamos avançar com uma coisa que não podemos fazer só para ficar bem’”, afirma Filipe, sabendo da responsabilidade que tem de assumir para com quem contrata.
E afirma orgulhosamente que tem feito tudo bem até agora. “Não há muitas pessoas que se possam queixar do “Dif”. Não devemos nada a ninguém. Uns dirão que é o minimo, outros o máximo, nós achamos o máximo, a nossa filosofia é mesmo essa”, referindo que nem todos têm a mesma responsabilidade a tratar outras pessoas, sabendo que “esta é a sua mentalidade mas depois há muitos que fazem ao contrário, onde dizem ‘Eles vêm e depois vê-se’, e depois corre mal”, o que, segundo Filipe, dá mau nome ao futsal do Luxemburgo.
O diretor sabe que não é algo de que se viva, mas o futsal tem importância para si. “Nenhum de nós vive disto, temos de dar um bocado de nós, há fases em que podemos dar mais, outras em que dou menos. O mais importante é que na Hora H tem de estar tudo certinho”. Admitiu que a melhor vitória da equipa a que assistiu foi na Liga dos Campeões contra o London Helvecia, onde ganharam 6-0 em casa, onde não eram favoritos e fizeram um jogo limpo e a equipa “esteve focada”. O mesmo acerca da melhor derrota a que assistiu, que foi na fase seguinte da mesma competição contra a equipa checa do Chrudim. “Perdemos 4-0 mas fizemos um jogão do caraças”, remata Filipe.
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