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Museu conta a história da emigração portuguesa para o sul da Alemanha

Fotografias, testemunhos gravados em vídeo e recordações contam a história da imigração portuguesa na cidade de Ravensburg, no sul da Alemanha, com direito a visita guiada este domingo.

A exposição “Heimat|Fremde”, do Museu Humpis-Quartier, inaugurada no final de outubro, percorre a história da emigração na cidade, focando-se nas nacionalidades com mais expressão, como a portuguesa, a turca, a italiana e a grega, entre outras.

Maria do Céu Campos, que em 1975 se juntou a outros 60 portugueses que viviam em Ravensburg, no estado federado de Baden-Württemberg, vai ser a guia numa visita de uma hora, organizada para este domingo.

“Há cerca de um ano apresentei uma ideia numa reunião do Conselho para Questões de Integração (Beirat für Integrationsfragen ou BIF) sobre fazer-se uma exposição e recolha de dados, material, sobre a história da imigração em Ravensburg que já data de há 60 anos. A ideia foi bem aceite e começaram logo a tratar de fazer a exposição”, revela Maria do Céu Campos.

Segundo dados da Câmara Municipal de Ravensburg, atualmente estão registados 260 portugueses na cidade, o primeiro chegou em 1965.

“Somos uma comunidade muito bem integrada. Antes as pessoas entravam na reforma e iam-se embora, agora estamos a ver que vão ficando. Eu sou uma delas”, conta.

“Quando cheguei, nem sequer sabia dizer bem ‘bom dia’. Lembro-me de histórias caricatas que hoje me fazem rir, mas na altura não era bem assim. Às vezes as pessoas não nos compreendiam, olhavam-nos de lado, lembro-me de nos chamarem ‘Scheisse Ausländer’ (insulto aos estrangeiros), … Mas devagar, devagarinho, com as festas em que apresentávamos as nossas especialidades, a nossa cultura, as pessoas começaram a interessar-se e a sociedade alemã começou a abrir-se”, descreve a portuguesa, a viver há 43 anos em Ravensburg.

Em Ravensburg, vivem cidadãos de 107 nacionalidades diferentes, num total de 50 mil habitantes. Maria do Céu Campos partilha uma brincadeira do presidente da câmara num encontro com portugueses.

“Ele disse, ‘eu aqui não vejo nenhum português, somos todos iguais’, porque fazemos parte, somos bem acolhidos”, explica.

“Quando vim, muitas pessoas ficavam-se pela escola obrigatória e iam trabalhar. Depois começámos a enveredar por outro caminho, os jovens devem fazer um ensino profissional e, se possível, seguir os estudos. Hoje é uma ínfima parte a que não consegue ou não quer aprender uma profissão”, detalha Maria do Céus Campos, que se mudou para a cidade em 1975, e adianta, entre risos: “casei e a minha lua de mel foi em Ravensburg, não voltei a sair daqui”.

A portuguesa considera que a cidade é “bonita e acolhedora”, um local “onde outros passam férias”.

“Estamos a pouco mais de 30 quilómetros da Suíça e da Áustria e muito perto da França”, explica, sublinhando ainda assim que nem tudo é fácil.

“Em 2005 fechou uma fábrica têxtil que aqui dava trabalho a cerca de 600 pessoas, atirou muita gente para o desemprego, não só portugueses, mas também turcos e italianos, foi uma situação muito dramática”, lamenta.

A exposição do Museu Humpis-Quartier, de Ravensburg, ilustra a chegada e o percurso dos imigrantes portugueses através de “fotografias antigas das primeiras pessoas, testemunhos que foram gravados em vídeo das primeiras gerações, diversas recordações”, aponta Maria do Céu Campos.

“Eu levei um xaile que era da minha avó, um primeiro lençol que tive com uma renda que a minha madrinha fez, … Uma turca levou os sapatos de casamento”, exemplifica a portuguesa.

A exposição vai estar patente até meados do mês de março.

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