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Portugueses do Luxemburgo podem votar. Mas querem?

Em ano de eleições autárquicas no Luxemburgo, várias associações apelaram este fim de semana para o recenseamento dos imigrantes, durante o Festival das Migrações, o encontro anual dos estrangeiros no país.

No stand de comida portuguesa, três dezenas de voluntários não tiveram mãos a medir para servir sardinha assada, bacalhau à Gomes de Sá e orelha de porco, entre outros petiscos.

“Faz hoje precisamente cinco anos que cheguei ao Luxemburgo”, o prazo necessário para participar nas eleições, contou um dos voluntários, Fernando Resende.

O imigrante português já decidiu recensear-se, considerando que votar “é um direito”.

Fora do recinto onde decorre o festival, mergulhados em fumo, dois homens assam os quilos de sardinhas que abastecem o stand de comida portuguesa.

Nenhum está recenseado, e um deles não sabe sequer quais são as condições para poder votar.

“Não é um tema que faça parte das conversas”, justificou Carlos Carvalho, há 12 anos no Luxemburgo, queixando-se de falta de informação.

Nas últimas eleições autárquicas no país, em 2011, estavam recenseados apenas 19% dos portugueses (uma percentagem superior à média geral dos estrangeiros, que ronda os 17%), segundo um estudo do Centro de Estudos e de Formação Intercultural e Social (CEFIS).

O estudo aponta razões para a fraca participação dos estrangeiros na vida política: o facto de a campanha eleitoral ser feita em luxemburguês, “afastando os estrangeiros”, e de haver poucos imigrantes entre os candidatos.

Essas foram também as principais queixas que as associações de estrangeiros fizeram hoje à ministra da Família e da Integração do Luxemburgo, Corinne Cahen (na foto acima com o colaborador do BOM DIA Mário Lobo), durante um encontro promovido pelo festival.

Para os dirigentes associativos, não basta fazer campanhas de informação sobre o direito de voto em ano de eleições: é preciso que os partidos políticos se envolvam e comuniquem em francês, um dos três idiomas do país.

A ministra admitiu que “é difícil participar quando não se compreende a língua” usada, mas recordou o medo manifestado por parte da população luxemburguesa de perder “a identidade nacional”, que associam ao idioma luxemburguês.

“Se começarmos a traduzir tudo em francês, as pessoas vão ter receio da perda de identidade”, justificou a ministra.

O atual Governo organizou em 2015 um referendo para atribuir o direito de voto nas legislativas aos estrangeiros, que representam mais de 46% da população, uma proposta que foi rejeitada por 80% dos eleitores luxemburgueses.

“Há um défice democrático neste país, quando 47% da população não pode votar [nas legislativas]”, reconheceu a ministra.

Joaquim Gonçalves passou a maior parte do dia a assar frangos para o stand de comida portuguesa e não participou no encontro com a ministra, mas disse à Lusa que se sente “excluído” da política.

“Se não servimos para votar no Governo, também não me interessa votar nas autárquicas”, afirmou o português, há 30 anos no Luxemburgo.

Mas votar nas eleições locais é importante em áreas que afetam os imigrantes, disse à Lusa o vice-presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo, Artur Fernandes.

O dirigente associativo recordou o caso da autarquia de Esch-sur-Alzette, que decidiu acabar com os cursos integrados de português nas escolas da localidade a partir do próximo ano, uma decisão que afeta 550 alunos.

“Se os portugueses estivessem inscritos para votar, teriam outro peso político”, defendeu.

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