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Histórias d’emigração

“As histórias são como as cerejas”, diz o povo na sua mais profunda sabedoria. É domingo, um domingo quente , com bastante luz, como são raros os domingos luminosos no centro da Europa. Estamos no começo da primavera, e as pessoas têm essa necessidade vital de sair, apanhar calor e sol.

As festas populares começam a surgir aos poucos,as pessoas juntam-se para confraternizar, para beber uma cerveja, falar, comer uma grelhada.
Este era mais um domingo assim, não é meu habito ir a estas festas, mas esta tinha lugar na cidade onde vivo, portanto uma razão mais que suficiente para passar por lá e reencontrar pessoas que durante a semana não tenho ocasião de ver.
Entre um caldo verde, um copo  de sangria, as conversas sucedem-se, as gargalhadas, as pessoas que chegam e que partem, as histórias que surgem do nada, como que iluminadas pela luz do sol, ou a necessidade de exteriorizar vivências, dores e afagos, pedaços de um mundo que precisa de ser exteriorizado.
Joaquina e Dinis encontram-se nesta mesa, por acaso ou talvez não, começam a falar das suas experiências de emigração.
Tinham saído do seu pais natal havia dois anos, tinham vindo à procura de uma vida melhor, perto dos 50 anos, esta é uma experiência  que deixa marcas, no corpo, nos  dias, nas noites de desassossego, na incerteza do futuro. Não têm medo, enfrentam a vida, enfrentam-na com coragem, determinação e um  pouco de loucura. Que seria a vida sem essa pitada de loucura?
Tinham encontrado de tudo, a honestidade, a desonestidade, o aconchego nos braços de algumas pessoas que os acolherem e o desencanto.
– Tenho tantas historias para contar – dizia-me Dinis com um olhar triste.
Há muito gente honesta por aqui, mas também muita desonestidade, muito aproveitamento da miséria dos outros.
Joaquina ria-se das experiências pelas quais tinha passado, é uma mulher alegre, bem disposta, encara a vida com sentido pratico e positivo.
Com um sorriso franco e aberto, Joaquina conta tudo aquilo por que tem passado, desde responder a anúncios de videntes que apenas querem  aproveitar-se da  falta de trabalho, até anúncios que pediam modelos fotográficos para fotografias de pornografia.
Um mundo completamente desconhecido para mim, que vivia há muitos anos neste país.
Estes são os actos e a realidade da emigração actual que aspira a ser contada, histórias que ficam escondidas no interior  das casas, no coração das gentes. Não há fingimento,nem há muita dor, a realidade assume-se sem medos, sem falsas esperanças.
E as pessoas sobrevivem, ultrapassam, ganham coragem para seguir em frente, levantar a cabeça e continuar.
Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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