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Bordados da Madeira transformam-se em azulejos

O uso dos desenhos do bordado Madeira na azulejaria é a marca dos irmãos Paula e Duarte Gomes, com oficina de cerâmica na freguesia do Paul do Mar, concelho da Calheta, uma das poucas existentes no arquipélago.

“As primeiras vezes que apareci com estas peças era costume ouvir as pessoas a questionar como é que eu tinha metido o bordado dentro do azulejo”, contou Paula Gomes à Lusa, explicando que o efeito resulta da aplicação da técnica da aresta, a mesma usada nos azulejos hispano-árabes do século XVI.

Embora seja formada em geologia, a paixão pela cerâmica arrebatou-a nos tempos em que estudava em Lisboa, quando, por curiosidade, frequentou um curso. “Depois, já não consegui parar”, realçou.

Em 1994, instalou a oficina no rés-do-chão da casa de família, no Paul do Mar, freguesia com 900 habitantes, que se estende por uma fajã à beira mar, na zona oeste da Madeira, durante anos marcada pelo isolamento, a emigração e a vida dura da pesca e do campo. Candidatou-se a um fundo europeu e adquiriu equipamento: uma fieira, uma mufla (forno) e uma prensa; máquinas que, como diz, “não industrializam o processo, simplesmente o agilizam”.

Na década de 2000, o irmão associou-se à iniciativa e desde então a oficina “Azuldesejo” funciona a quatro mãos, produzindo painéis para clientes um pouco por toda a ilha e também para estrangeiros vindos de França, Áustria e Estados Unidos.

“Normalmente, os azulejos artesanais são cortados com uma faca, só que se eu fizer dessa forma as pessoas não compram. As pessoas gostam das coisas artesanais, mas com aspeto industrial. É curioso, não é?”, disse Duarte Gomes, enquanto ia dando forma a uma peça, com recurso a um naco de barro, um rolo, um martelo, um molde e, por fim, uma guilhotina, para garantir um corte perfeito.

“Alguns dos nossos azulejos à venda nos museus do Funchal eram devolvidos, porque as pessoas consideravam que tinham defeito, quando na verdade aquelas pequenas imperfeições tornavam a peça única”, explicou Paula Gomes.

Os primeiros trabalhos da oficina “Azuldesejo” foram réplicas dos azulejos hispano-árabes do século XVI, em que as figuras são delineadas através de arestas, que servem para separar as cores dos vidrados.

A certa altura, Paula Gomes decidiu aplicar a mesma técnica sobre os desenhos do bordado Madeira, numa tentativa de identificar o seu trabalho com a região. E assim nasceu uma marca distintiva.

Os clientes começaram por ser turistas, adquirindo sobretudo as réplicas hispano-árabes, entre as quais uma cujo original do século XVI, ao nível do país, só existe no Convento de Santa Clara, no Funchal. A sua característica é ser de uma só cor – verde cobre – quando os azulejos da época são policromados.

Depois, começaram a chegar encomendas de particulares, restaurantes, hotéis, autarquias e os painéis da “Azuldesejo” espalharam-se pela ilha, estando também à venda em várias lojas e museus do Funchal.

“Mas agora o negócio está subalimentado devido à crise”, disse Duarte Gomes, evocando os tempos em que nas feiras de artesanato eram obrigados a reabastecer a banca. “Atualmente, a gente leva e traz”, reforçou Paula Gomes. “As pessoas gostam e acham muito bonito, mas comprar?”.

“Os preços que praticamos já não são alterados para aí há dez anos! Mesmo assim, se o mercado fosse consistente e permanente, a coisa compensava”, salientou Duarte Gomes, que se dedica a tempo inteiro à atividade.

É capaz de cortar 50 azulejos num dia, mas até que se diga que o produto está pronto passam à vontade dois meses, entre a secagem ao ar livre, a primeira cozedura no forno, a aplicação do vidro com as respetivas cores, a segunda e derradeira cozedura e o arrefecimento final.

“No processo de feitura do azulejo, a paciência é fundamental”, sublinhou, por seu lado, Paula Gomes. No entanto, quando o produto é de qualidade, o cliente pode contar com uma durabilidade de séculos.

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