Recordo-te porque minha sede por ti era inevitável.
Nunca me fizeste sentir a mais. Deste-me a tua cama como se fosse a continuidade da tua pele e os lençóis peças de puzzles bem encaixadas no ritmo do dia. Outros homens pedem para a mulher abandonar a casa saciados do corpo. Sem vontade da mente. Tu abriste a fêmea e mantiveste a mulher em encosto. Falaste-me de meiguice e eu fui-te terna, falei-te de carinho e tu emprestaste-me tua camisola. Aceitaste o desafio da confiança e eu embrulhei-me no teu sofá.
Minha sede por ti era inevitável. Leste-me as palavras de dentro com o interesse de quem descobre um bom livro e nunca evitaste dar-me teu ombro quando as tuas costas já doíam.
Lembraste-me sempre de que te fazia falta mesmo quando o cansaço te impedia de a viver.
Claro que era inevitável. Não havia chocolates ou prendas, nem corações. Mas deste-me o teu canto e mostraste teu mundo. Pediste-me para ficar quando o acaso me pedia ida e reconheceste meu desapego porque o teu se fazia demasiado a caminho do nada.
Foi inevitável a minha sede. Prolongaste-me líquida em ti, deste solidez às minhas forças.
E eu bebo das tuas certezas.
Era nosso destino ficarmos dentro do nosso encontro.