Fui ao Douro aos amores
Não achei que vindimar
Vindimaram-me as costelas
Foi o que lá fui ganhar!
(quadra popular)
Manuel Couceiro, mais conhecido pelo cognome de «Peralta», era uma estampa de homem: alto, elegante, bem parecido e melhor aperaltado, mas pouco dedicado ao trabalho.
A beleza viera-lhe do pai, que tinha fama de mulherengo, e as fatiotas que exibia, herdara-as de um tio rico, fulminado por doença cardíaca.
Entrado na casa dos trinta, achou que estava na hora de refrear o coração, dando-lhe apenas liberdade condicionada, não fosse o desgraçado cometer alguma loucura. Só deveria prender-se por menina donzela, bonita e… rica! Podia até ser benevolente quanto às duas primeiras alíneas, desde que o pecúlio ou a herança da mulher escolhida fossem compensadores.
Soube, então, através da Joana do Môcho, que todos os anos integrava a «roga» que se deslocava ao Douro, na época das vindimas, que havia por lá moça rica pronta a deixar-se enfeitiçar de amores. E foi na sequência destes nobres princípios que o Peralta acompanhou as vindimadoras até a uma quinta da Régua.
Mal chegou, começou a fazer olhinhos à menina Olívia, moça baixota, curta de ideias, feia como um trovão, mas herdeira de uma grande fortuna.
Olivinha não era propriamente uma criança e muito menos donzela. Mas por detrás daquela carantonha havia um coração sonhador. Ansiava por homem aprumado e trabalhador. O Peralta tinha caído do céu…
Os pais desconfiavam:
– Como é que um rapaz assim elegante e com tantos predicados (o tio tinha de facto excelente guarda-roupa…) arrastava a asa a uma rapariga assim a e assado?
Apesar das dúvidas o namoro continuou.
Veio entretanto a saber-se na aldeia que o infeliz não tinha onde cair morto e ainda por cima era calaceirão e mulherengo.
A rapariga bem tentava argumentar diante do pai furibundo:
– Ele é rico e trabalhador, meu pai.
Dizia isto impressionada pelo facto do seu amado, enquanto namoravam, rejeitar compridas «beatas».
Ignorava que o malandro era também enganador. Após cada despedida, por entre juras de amor eterno, cautelosamente recolhia todas as pontas de cigarro que antes atirara com desprezo para o chão. E fazia-o pelo respeito ao preço do tabaco, que lhe consumia boa parte do dinheiro que ganhava nos biscates que ia fazendo o contragosto.
Depois, tudo ruiu. O Peralta foi interceptado pelo pai da rapariga para um ajuste de contas. O progenitor da Olivinha não podia perdoar tal desfeita:
– Há que ter respeito pelos pergaminhos da família ! – dizia, com a raiva expressa nos olhos de fuinha.
Vai daí, manda dar uma sova ao figurão.
O Peralta, muito maltratado, arrastando-se com dificuldade, lá conseguiu chegar à vila, cheio de mazelas, com a alma despedaçada, e o corpo exangue. A fatiota também ficou numa lástima… Mas ele salvou-se, vivo!…
Lá diz a quadra popular…