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O “papa do sorriso” foi beatificado

Albino Luciani (1912-1978), que se viria a tornar o papa João Paulo I, foi beatificado este domingo, numa cerimónia presidida por Francisco, gesto que reconhece um percurso de vida marcado pela simplicidade e proximidade, que inspirou os seus sucessores.

De origens humildes, nascido no norte da Itália a 17 de outubro de 1912, o futuro beato da Igreja Católica ficou conhecido, sobretudo, pelo seu curto pontificado, de 33 dias, em 1978, mas a sua beatificação permite sublinhar o seu papel, na Igreja e na sociedade, como padre, bispo e cardeal.

Albino Luciani era patriarca de Veneza quando foi eleito Papa, a 26 de agosto de 1978, assumindo o nome de João Paulo I, em homenagem aos seus dois antecessores; recusou a coroação formal, abandonou o nós majestático, nos seus discursos, marcados por um estilo coloquial, e não quis ser carregado na cadeira gestatória.

A simplicidade, a proximidade com os pobres, a defesa da transparência, dentro e fora da Igreja, são pontos de encontro entre a vida de Albino Luciani e a do Papa que o vai beatificar, Francisco.

“Ao longo da sua vida, ele procurou e apontou constantemente a substância do Evangelho como a única e eterna verdade, para além de qualquer contingência histórica ou de moda. Homem sábio e humilde, dotado de boa cultura, soube falar de Deus com simplicidade evangélica, testemunhando a imagem de uma Igreja que não brilha com a sua própria luz, mas com a luz refletida, que não vem dos homens, mas do Senhor”, escreveu o atual Papa, que criou a Fundação João Paulo I, do Vaticano, para preservar o património deste pontífice.

A cura reconhecida como milagre, que abriu caminho à beatificação, aconteceu na Argentina, em Buenos Aires.

A vida de Albino Luciani ficou marcada pela sua ligação ao norte da Itália, onde nasceu, e aos dois Papas que o precederam no pontificado: João XIII nomeou-o bispo de Vittório Véneto, em 1952, incluindo-o entre os padres do Concílio Vaticano II; Paulo VI escolheu-o como Patriarca de Veneza, em 1970, e criou-o cardeal, três anos depois.

“A humildade pode ser considerada o seu testamento espiritual. Graças precisamente a esta virtude sua, foram suficientes 33 dias para que o Papa Luciani entrasse no coração do povo. Nos discursos usava exemplos tirados de acontecimentos de vida concreta, das suas recordações de família e da sabedoria popular”, disse Bento XVI, no 30.º aniversário da sua morte.

O processo de beatificação permitiu, entre outros documentos, preservar o património dos textos e discursos escritos e proferidos por João Paulo I durante o seu pontificado.

“Infelizmente, nos anos 80, 90, a figura de João Paulo I não foi considerada de um ponto de vista historiográfica, foi pouco considerada, é quase uma figura evanescente, marginal. Pelo contrário, tem de ser redescoberta pelo valor histórico que tem”, assinala Stefania Falasca, Vice-presidente da Fundação João Paulo I, em declarações ao portal de notícias do Vaticano.

As atas da causa de canonização recolhem o testemunho de 188 pessoas, entre as quais o papa emérito Bento XVI, o médico Renato Buzzonetti, que constatou a morte de João Paulo I, e da irmã Margherita Marin.

É ela que testemunha o que aconteceu nas horas anteriores à morte súbita do Papa, depois de um mal-estar à hora de jantar, que Albino Luciani não valorizou.

O relato foi recolhido num podcast da autoria de Andrea Tornielli, diretor editorial dos media do Vaticano, no qual a religiosa diz que, ao entrar no quarto de João Paulo I, na manhã de 29 de setembro de 1978, percebeu “imediatamente” que o pontífice tinha morrido.

“Vimos os óculos, ao lado a luz estava acesa, tinha as folhas… Quando se está a dormir, as folhas caem, mesmo um livro que esteja nas mãos cai. Mas estas estavam pousadas, no peito. Nem sequer mexeu uma mão, por sentir-se mal, o que fosse. Ficou assim, bonito, sorridente, também”, precisou.

A abertura da Causa permitiu também um trabalho de pesquisa, de tutela patrimonial, de estudo da sua obra e do magistério do novo beato.

O homem que viveu o Concílio Vaticano II e a revolução social, como bispo e patriarca, ficou também conhecido por escrever cartas a personagens do passado, reais ou de ficção – como Pinóquio.

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