Máscaras de Penedono: feiticeiras e diabretes na bienal do Luxemburgo

Ali ao lado de Penedono, na fronteira entre os distritos de Viseu e da Guarda, numa pequena aldeia rodeada de vestígios do império romano, por entre fragas e riachos de água fresca, vive Catarina Martins, a artesã portuguesa que vai apresentar as suas máscaras de junça na cidade do Luxemburgo, na bienal “De Mains de Maîtres”, entre os dias 23 e 26 de novembro.
Catarina vai aos campos buscar a matéria-prima de que necessita para a sua arte. Vive na aldeia de Antas, a 10 km de Penedono e a 15 de Sernancelhe, na Beira Alta. A sua arte consiste em fazer peças de artesanato em junça, uma planta da família do junco.
“A junça é uma planta muito resistente e durável, tornando-se um material ideal para a confeção de peças como cestos, sacos, chinelos e tapetes”, explica ao BomDia. Catarina produz também, desde 2018, máscaras inspiradas em contos da sua aldeia natal e que incluem feiticeiras, mouras encantadas e diabretes.
“A tradição é fazer depósitos para guardar legumes e frutos, mas eu gosto de fazer peças decorativas e artísticas. É uma questão de inspiração“.

As peças de Catarina Martins são muito valorizadas pela sua qualidade e beleza. A artista utiliza técnicas tradicionais de cestaria em junça, combinando diferentes cores e texturas para criar peças únicas.
Além disso, as peças em junça de Catarina são reconhecidas pelo seu valor cultural e histórico. A técnica de tecelagem da junça surgiu em finais do século XVIII, foi passando de geração em geração na região onde nasceu e vive. Mas essa técnica está agora nas mãos de muito poucas pessoas.
“Sou eu e mais duas ou três pessoas da região. Se as coisas não mudarem, esta arte vai-se perder”, garante.
A Câmara Municipal de Penedono promoveu em 2018 a certificação da marca “Junça da Beselga” (o nome da aldeia onde se pensa terem sido feitos os primeiros cestos e potes em junça) com o intuito de valorizar este património e criou, juntamente com a associação Trinta Moios de Sal – Artesanato e Design, um curso de formação.
“Eu sou natural da freguesia de Antas, do concelho de Penedono, e sempre me interessei pelo artesanato e pelos trabalhos manuais em geral, e candidatei-me a essa formação. Felizmente, fui uma das pessoas selecionadas”, revela Catarina Martins.

“Como a junça cresce de forma espontânea e abundante na minha aldeia e é uma matéria-prima natural, ecológica e muito versátil, depois de aprender as técnicas com os mestres da Beselga comecei a explorar outras maneiras e formas de a usar, incorporando outros materiais, como madeira, tecidos e alguns fios de algodão coloridos e tricotados”.
E foi assim que, “a par das peças tradicionais, fui criando algumas peças originais, inspirando-me na natureza e nas histórias e lendas da minha aldeia. Assim surgiram as minhas máscaras – peças que faço atualmente em maior quantidade – a que eu chamo “juncetos”.
São alguns destes “juncetos” que serão apresentados na 4.ª edição da bienal de artesanato do Luxemburgo “De Mains de Maîtres”, entre 23 e 27 de novembro.
Catarina Martins já ganhou vários prémios e reconhecimentos pelo seu trabalho em junça. Recentemente viu algumas das suas peças expostas em Lisboa, na Assembleia da República.