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Estudo sobre associações portuguesas em França revela queda a partir de 2019

© Raúl Reis / BOM DIA

Portugal é reconhecido historicamente como um país de emigrantes. Desde os primórdios das migrações que se carateriza pelos maiores volumes na saída de portugueses versus na entrada de estrangeiros. Comparativamente às migrações transatlânticas numa primeira fase, a partir da década de 1960 observa-se um redirecionamento dos fluxos migratórios portugueses para os países do norte da Europa, entre os quais se destaca França.

A forte presença da comunidade portuguesa neste país desencadeou a ativação de um forte movimento associativo, que inspirou Liliana Nunes e Carlota Moura Veiga a fazerem este trabalho. Para analisarem a evolução das associações no país, os autores do trabalho constituíram uma base de dados onde constam as associações fundadas pelos portugueses residentes em França, desde 1902 a 2023.

“Por este meio, é possível identificar a evolução da caracterização do movimento associativo português em território francês em termos de organização estrutural e objetivos”, explicam os investigadores do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) em colaboração com o Observatório da Emigração.

O trabalho analisa as associações portuguesas em França pela região onde se situam, mas também pelas suas lideranças (homens ou mulheres), domínio de ação e outras variáveis.

O movimento associativo não terá tido um desenvolvimento significativo até ao período mais relevante da emigração portuguesa para França (1970), tendo em conta a lei aprovada a 12 de abril de 1939,que limitava os direitos de associação dos estrangeiros em França. Só em 1981 é que esta legislação é abolida, seguindo-se uma nova lei que submete as associações de imigrantes em França às mesmas normas jurídicas que as associações francesas, recorda o estudo. Consequentemente, esta lei provocou um extraordinário aumento do número de associações estrangeiras, como se pode verificar pelas 253 associações criadas na década de 1980.

Apesar da diminuição na criação de novas associações de portugueses nos anos 1990, nas duas décadas seguintes tornou a crescer, atingindo o seu pico entre 2010 e 2019.

Das associações criadas nas décadas de 1900 e 1930, todas se encontram ativas e, das fundadas na década seguinte, das duas associações listadas, uma está ativa e a outra não tem informação disponível. Das associações nascidas nos anos 50, 2/3 encontram-se ativas e 1/3 não dispõe de informação. Entre as décadas do período áureo da imigração, os valores das associações atualmente ativas criadas nesses anos são os mais elevados registados, correspondendo a 84.6% em 1960 e 61.5% em 1970. Para a primeira década referida, 15.4% não apresentam informação relativamente à atividade atual, enquanto que na segunda a percentagem para este estado de atividade é de 34.1%, tendo sido também nesta última década que se criaram as primeiras associações que atualmente já não se encontram ativas (4.3%).

Esta tendência de uma elevada taxa de atividade associativa criada nos anos de 1960 e 70 mantém-se na década de 1980, em que 53% continua em atividade, 43.9% não disponibiliza informação neste aspeto e 3.2% encerrou permanentemente a sua atividade, revela o trabalho.

Contudo, a partir dos anos 1990 esta vertente positiva inverte-se, considerando que o desconhecimento sobre o estado de atividade das associações criadas neste período mais recente seria predominante em
relação aquelas que ainda se encontram ativas, ou seja, para a década de 1990, esta diferença seria de 51.6% para 39.8%, tendo aumentado em 5.4% as associações agora com atividade cessada (8.9%). Tendo sido esta a década em que se registou um maior número de associações criadas que, entretanto, encerraram atividade, nos 10 anos seguintes este valor diminuiu para 6.1%, o que representa 15 associações e, similarmente ao período anterior, mais de metade do movimento associativo que emergiu nos anos 1990 não apresenta informação relativa ao estado de atividade no presente (56.6%), o que pressupõe que as restantes 37.3% associações estejam ativas.

Na década de 2010, em que há o registo do maior número de associações criadas, também as associações ‘sem informação’ são superiores a 50%, com um aumento de 2.1% em relação aos anos 2000, porém observa-se uma subida nas associações que permanecem ativas à data de hoje, para 39.5%, o que, por sua vez, implica uma redução daquelas que estão inativas para 1.7%.

Entre 2020 e 2023 foram criadas 58 associações, das quais 53.4% desconhece-se o estado de atividade, 44.8% estão ativas e os mesmos 1.7% encerraram permanentemente a sua atividade, ainda que em apenas três anos. Posto isto, pode-se aferir que a maioria das associações que permanecem ativas atualmente foram criadas nos primeiros anos analisados, correspondentes fundamentalmente à grande vaga de emigração portuguesa para França entre as décadas 1960, 1970 e também 1980.

Inversamente, as associações criadas mais recentemente apresentam menos informação sobre o
seu estado de atividade e uma taxa de inatividade mais alta. Concluiu-se, no capítulo segundo do presente estudo, que é nos departamentos do norte de França, mais especificamente na região de Île-de-France, que estão localizadas a maioria das associações criadas pela comunidade portuguesa, faltando, porém, observar a sua distribuição geográfica consoante as décadas de criação.

Neste âmbito, a associação criada na primeira década representada está localizada em Yvelines e tanto nos anos 1920, como nos anos 30, as associações criadas emergiram em Morbihan. Na década seguinte, uma das associações foi criada também neste departamento enquanto a outra terá surgido em Pas-de-Calais.

Em 2020 e até ao ano atual, a maioria das associações têm-se fixado principalmente na localização
departamental de Val-de-Marne, representada por 10.3% das associações criadas nestes três anos.

A transversalidade geográfica observada anteriormente reproduz-se também no que concerne o seu estado de atividade, sendo que é nos departamentos de Val-de-Marne, Hauts-de-Seine, Essone e Val-d’Oise, onde se encontram representadas a maior parte das associações ativas.

O meio de contacto eleito pelas associações de portugueses em França é o telefónico, meio constante no que respeita a temporalidade de criação das associações e o seu estado de atividade. É também observável na presente análise a prevalência da utilização do e-mail, principalmente entre as associações criadas desde os anos 1970 até à década mais recente de 2010, em que mais associações disponibilizam o e-mail como meio de contacto.

Caraterizando-se como um fenómeno mais recente, a construção de websites próprios e o recurso às redes sociais como o Facebook tem vindo cada vez mais a ser essencial na partilha da atividade das
associações com os seus membros, mas também com a generalidade dos portugueses imigrantes em França.

Nesta medida, a década mais recente de 2010 é aquela que apresenta o maior número de associações emergentes com website e/ou página de Facebook disponibilizados. Nos últimos três anos, é possível afirmar que este é o meio de contacto mais recorrido pelas associações de portugueses localizadas em França, apresentando 23 associações com website e/ou página de Facebook das 58 associações criadas no dito período de tempo.

No que respeita à presidência, é de notar que, nos primeiros anos, a emigração portuguesa predominantemente masculina influenciou em muito a escolha dos presidentes das associações e, por sua vez, a feminização das seguintes vagas migratórias mediante o reagrupamento familiar, alterou a anterior tendência de masculinização da presidência das associações.

É apenas a partir da década de 1940 que há registo de informação acerca dos presidentes, sendo que, neste mesmo período, a única associação observada é presidida por um homem. Entre 1950 e 1959 já não é a totalidade das associações criadas, mas 66.6% que apresentam um homem como presidente e
33.3% com uma mulher presidente. Na entrada do período da maior vaga de emigração portuguesa para França, esta diferença aumenta para 91.7% das associações que emergem com homens na presidência e os restantes 8.1% com mulheres dirigentes, revelando-se, então, a década com maior desigualdade de género, com exceção de 1940. Contudo, a partir destes anos a tendência torna-se para a procura de um equilíbrio entre os géneros na presidência, com a diminuição das associações dirigidas exclusivamente por homens e, portanto, um aumento das presidências ocupadas por mulheres e mistas. Apesar disto, permanece uma visível predominância masculina de cerca de 2/3 para 1/3 de mulheres como presidentes.

Ora, é na última década apresentada (2010) que a proporção é a descrita, sendo que 64.6% das novas associações são presididas pelo sexo masculino, 33.3% pelo sexo feminino e os restantes 2.1% representantes da copresidência entre pessoas de ambos os sexos. Nos três anos da década de 2020 mantêm-se resultados semelhantes, ainda que não se possa estabelecer como padrão para os sete anos que se seguem.

Consulte aqui o estudo completo.

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