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Vou falar de dietas. Da dieta relacionada com a alimentação. Essa mesmo. Que da emocional há muito me esqueci de fazer e nem sequer tenho intenções de voltar a recolher seus ensinamentos. Um dos privilégios da idade. Deixar engordar (ou emagrecer) as emoções e exibi- las impunemente como livro escancarado daquilo que se atingiu, que até pode ser uma grande porcaria.

A dieta de que vou falar é aquela que se faz com devido acompanhamento de nutricionista. Tomamos chás e complementos, batidos e refeições estranhas, muitos vegetais e nada de doces. E perdem-se quilos. Emagrecemos também a carteira e o bom humor, mas isso é apenas o preço que se paga para se estar com uma silhueta mais de acordo com o aspeto saudável das meninas que aparecem nos anúncios.

Obviamente que raras são as vezes em que o espelho nos atira de volta com a imagem publicitária que vimos na televisão. Mas só a auto-estima recebe uma bofetada, o resto habitua-se. Faz-se exercício, sua-se e depois alegamos perante os outros que apenas o fazemos por uma questão de saúde. É mentira, mas até quem o diz finge que acredita.

Ao fim de uns meses de gastos em dinheiro, suor, comida e suplementos estranhos em forma de comprimidos naturais, a balança abençoa-nos com a redução do peso. Óptimo. O problema é que o pastel de nata, tão vistoso, ainda existe e o cozido à portuguesa ainda vem à mesa. Pensamos: chatice, que é que eu faço? Continuo eternamente a combater o metabolismo do meu corpo que adora reter tudo o que é aprazível ? Ou cedo ao pecado da gula, porque um pastelito até nem faz mal e amanhã só como sopa de beringela para compensar? Um dilema. A dieta ,diz a nutricionista com ar de quem sabe bem como as coisas se processam até porque nasceu e vai morrer magra, ensina-me a comer bem. Tenho de gerir isso. Ainda não aprendi, contudo a gerir a falta de açúcar e a doçura que me vinha à boca, às mãos e ao sorriso quando partilhava uma refeição como deve ser, com amigos e família. Tudo bem, enfardo-me de alface, substituo água por gin tónico e esqueço a mousse de chocolate.

Ai, o dilema dos países industrializados e capitalistas, atira-me uma amiga quando almoçamos. Ela tem o peso certo e atacou um bife a pedir faca terna. Olha-me complacente e levo logo na cara com a saga dos refugiados. Se andasses os quilómetros deles e a tragédia que vivem não pensavas em dietas.

Encolhi-me. Senti-me fútil, quase pérfida. No momento apeteceu-me um barril daqueles que enchem de doce de ovos ali para o lado de Aveiro. Para compensar-me. Logo uma outra amiga, bebericando a sua coca cola com limão e gelo, sentada entre nós e vendo meu ar triste diz-me que faço muito bem em evitar essas comidas que fazem mal. Ando com a pele bem mais bonita e tomo conta do coração. Além disso a gordura não é de todo formosura. E para acentuar a sua posição rematou que já dizia a duquesa qualquer coisa que levou um rei inglês a abdicar do trono por amor, que uma mulher nunca era excessivamente magra. A imagem dessa mulher cuja citação parece ter passado décadas, surge-me à frente. Era escanzelada e feia e até levou um rei a casar por amor e a viver um casamento infeliz o resto da vida.

Suspirei e pedi sobremesa.

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