Ele há cada uma!
Quando estou pela Invicta, costumo almoçar num restaurante muito agradável, com uma excelente refeição económica, que está quase sempre cheio. Ontem, porém, ou porque a hora não fosse já propriamente de almoço, ou porque muita gente está de férias, estava quase vazio.
Coisa boa para uma refeição mais descansada! – pensei eu.
Pois, nada disso.
A D. Paula (nome fictício), a enérgica proprietária, meteu conversa comigo, acabando por sentar-se na minha mesa, diante de mim. Boas familiaridades a que se dão (só) as pessoas do Norte!
Vai daqui, vai dali, o que faz, o que não faz, acabei por lhe dizer que me dedicava à escrita de livros. Acabou também ela por dizer-me que, em tempos, lia muito, sobretudo romances.
– E por que não lê agora? – perguntei-lhe, imaginando a resposta óbvia.
– Não sei exatamente a razão…, mas tenho pena. O que me aconselha para eu voltar a ler?
– Vamos pensar juntos… – desafiei-a.
E, como quem não quer a coisa, fui escrevinhando, na toalha de papel da mesa do almoço, as dicas que agora intitulo (com permissão da D. Paula) «10 Dicas para não voltar a ler…». São um misto de coisa séria e brincadeira, mais de provocação do que de exatidão…
Foi o meu primeiro decálogo colaborativo, escrito com palavras, desabafos e sugestões do meu interlocutor de almoço, entre risos e salada.
Aqui vai, tal e qual como rabiscado na toalha de papel:
- Leia o que lhe apetecer, por prazer… Diversos tipos de texto (poesia, prosa, notícias…) e em vários formatos (livros, revistas, jornais…)… Faça uma boa ementa de leitura…
- Tenha sempre à mão algo para ler, porque há, de quando em vez, um momento morto que podemos avivar com a leitura…
- Leia também com os ouvidos, escutando poemas gravados, canções com boas letras, entre outras coisas…
- Não passe muitas temporadas sem ler, isso engorda (a preguiça e o desleixo). Nós somos “animais” de hábitos…
- Faça dos livros sua companhia. Além de ter algum sempre à mão, tenha em casa uma pequena biblioteca para que possa reler algum até que se torne o seu preferido (O livro da sua vida! Quem sabe?)…
- Não se empanturre com televisão, net e outras “fast-leituras”. Estas desviam-nos da verdadeira leitura, aquela que nos agrada, mas que também nos desafia e põe os “miolos” a fazer faísca…
- 7. Leia todos os dias um pouco. Um poema, uma história, uma entrevista, uma notícia de jornal, um livro de instruções do eletrodoméstico novo, um edital da Câmara…
- 8. O tamanho não importa.Pode ler pequenos poemas (haikus, quadras…), microcontos e também romances gordos… O importante é que leia, e se delicie com o que lê…
- Fale sobre o que leu com os seus amigos (aqui escrevi clientes). O que gostou, o que não gostou, se recomenda ao não…. Atribua (ou não) uma estrela Michelin às suas leituras…
- Não passe do 8 ao 80. Salvo raras exceções, apesar de que «ler» não ocupa lugar, leia q.b., com conta, peso e medida… Faça uma boa gestão do seu apetite…
A brincar a brincar, talvez a D. Paula volte a ler… Como a vejo com bastante frequência, vou começar a perguntar-lhe:
– Já leu alguma coisa hoje, D. Paula?