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Comerciantes portugueses desapontados com as vendas de Natal na Venezuela

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As vendas de Natal “sabem a pouco” para os comerciantes portugueses na Venezuela, que viram frustradas as suas expectativas de recuperar da crise dos últimos anos e queixam-se de que são inferiores às do ano passado.

“Quase nem parece que estamos perto do Natal. Há mais iluminação, mas tudo sabe a pouco. As pessoas entram nas lojas, verificam os preços, nalguns casos até várias vezes, mas depois vão embora. São muito poucos os que compram”, disse um comerciante português à agência Lusa.

Proprietário de uma loja de brinquedos e artigos de cozinha e de decoração em Caracas, José M. Freitas disse que, no início da segunda quinzena de novembro, houve uma subida nas vendas de produtos decorativos para o Natal, mas para clientes empresariais.

“À parte das empresas que vão comprando umas coisinhas para criar um ambiente de Natal, as pessoas já não compram como antes, as prioridades são outras, a comida por exemplo”, disse.

Tentando inverter um pouco a situação, este comerciante tentou “fazer ofertas rotativas” nas últimas semanas, “com mínimas margens de lucro”, mas “os resultados estão aquém do esperado”.

“Cada dois dias púnhamos diferentes brinquedos em promoção, mas quando as pessoas chegam privilegiam o que é mais barato (…) os tempos são outros e as finanças também”, explicou.

Também em Caracas, o comerciante António da Silva Figueira chega a ter “dúvidas se o Natal já está a chegar”, porque, “mesmo a fazer descontos gerais de 10% e 15%” na sua mercearia, “os clientes estão escassos e as vendas [caíram] pelo chão”.

“Estávamos com uns níveis muito altos de perdas de produtos que se estragam e caducam e optámos por vender a preços mais baixos, mas a saída não é a mesma”, disse, dando como exemplo os ovos, os laticínios e algumas frutas que chegaram a estar a valores inferiores aos 50%.

“Se conseguirmos recuperar o que pagámos quando comprámos, já estamos a ganhar”, desabafou.

Este comerciante acrescentou que, há alguns meses, quando baixaram os preços dos produtos, as pessoas chegavam e levavam outras coisas também, mas, atualmente, alguns clientes vão apenas à procura do que está em oferta e do que realmente precisam.

Por outro lado, Marcos Gonçalves, proprietário de um café em Caracas, atribui a queda nas vendas “ao alto custo da vida, dos serviços e das coisas na Venezuela”, que contrastam “com os baixos salários e a dolarização da economia”.

“Há lugares que chegaram a pedir 4 dólares por um café e outros 4 dólares por uma fatia de bolo ou um ‘pastelito’. A pouca venda obrigou-nos a baixar os preços. Agora, um café está por pouco mais de 2 dólares e o bolo em 3 dólares. Mas antes tínhamos em média 20 a 25 pessoas sentadas a consumir e a conversar e agora já vemos como bom que estejam 6 ou 7, mas mesmo os clientes frequentes visitam-nos menos vezes”, disse.

Marcos Gonçalves explicou que “a exceção são alguns lugares que aos fins de semana têm música ao vivo, mas o ter mais pessoas não representa mais vendas ou mais lucro”.

“Os adornos e enfeites de Natal fazem-nos pensar que estamos em dezembro. Esperemos para ver como irá com o ambiente e as festas de fim de ano”, disse.

Num supermercado de Chacaíto (leste de Caracas), Bernardete dos Santos procurava folhas para fazer as “hayacas”, o prato típico do Natal venezuelano, que consiste numa massa de milho recheado com diversos tipos de carnes preparadas e molhos, que depois é cozido envolvido em folhas de plátano [bananeira tropical].

Em conversa com a Lusa, explicou que “como não dá para comprar bacalhau porque está a 30 dólares o quilograma, as ‘hayacas’ não podem faltar”.

“Lá em casa somos seis e faremos a mesma quantidade que no ano passado, mas com mais farinha [uma massa mais grossa] e um pouco menos de frango e porco”, rematou.

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