Artista portuguesa relata as memórias e a saudade da emigração
A artista Beatriz Albuquerque apresenta domingo este Nova Iorque uma performance artística interativa inspirada na diáspora portuguesa nos Estados Unidos, num projeto que resultou de entrevistas a vários emigrantes e nas quais a saudade surge como fator comum.
Em entrevista à agência Lusa, a artista portuguesa, que se encontra numa residência artística nos Estados Unidos, explicou que o seu projeto, denominado “Wonder Memories” e o qual iniciou em França, fará parte da celebração do 13º aniversário do evento Louffapalooza, na cidade de Nova Iorque.
“O público poderá ver uma performance interativa e, não querendo estragar a surpresa, posso dizer que será um jogo e haverá um prémio a ser atribuído entre os participantes. Em relação à performance, será baseada em 13 das várias entrevistas que fiz a membros da diáspora portuguesa nos Estados Unidos”, contou.
Para este projeto, Beatriz Albuquerque tem falado com dezenas de emigrantes, colocando-lhes perguntas tão pessoais como: “do que sente saudades de Portugal?”, “qual a música que associa a ser emigrante?”, “quando está em Portugal o que leva na mala/carteira?” ou “porquê emigrar?”, questões que muitas vezes levam os entrevistados às lágrimas.
“Eu adoro ouvir as vozes de todos, mas gosto particularmente das histórias que me contam e que partem de perguntas muito pessoais que lhes faço nestas entrevistas. Entrevisto pessoas muito diversas e, muitas vezes, não estão à espera de perguntas tão pessoais e chegam a ficar emocionadas”, disse.
“Saudades dos avós, das família, de tudo…notam-se ligações muito fortes. Mas há também variações, como histórias de amor, histórias de pessoas que estão a lutar para conseguir algo. Registei as mais diferentes vivências. Mas o que é comum a todos é a saudade e a nostalgia. Mas não é uma saudade que os levaria de volta a Portugal agora, é saudade do Portugal que deixaram há 10, 20, 30 anos mas que, quando voltam, já não é o mesmo Portugal, nem eles são a mesma pessoa”, explicou a artista portuguesa.
Beatriz Albuquerque sublinhou que nunca observou qualquer mágoa desses emigrantes para com Portugal, sentido sempre “positivismo”, mas observou que muitas das pessoas com quem falou se sentem emigrantes dentro do próprio país quando regressam.
“É muito interessante perceber isso. É a saudade do país que eles deixaram, mas saudades de como ele era nessa altura. E, quando regressam, notam um certo distanciamento que os leva a sentirem-se emigrantes dentro do próprio país. Há um paradoxo muito interessante e que vejo em muitas das entrevistas”, disse.
Neste projeto de Beatriz Albuquerque, as entrevistas a membros da comunidade luso-americana resultarão num “arquivo de memórias e pensamentos destas pessoas, as suas histórias, a sua vida e as perspetivas de futuro”.
Como síntese, surge a criação de livros de artistas e a performance que será apresentada pela primeira vez ao público nova-iorquino no domingo, a partir das 15h00 (hora local, 20h00 em Lisboa), no Bureau of General Services—Queer Division, um centro LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero), com entrada livre.