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Amor à antiga

Ah, como era diferente o amor em Portugal!

Há meio século, os namorados não gozavam das liberdades de hoje. Aos apaixonados eram impostas normas rígidas, vigilância apertada, com horas e dias marcados para os encontros, bem à vista de todos.

Sobretudo nas aldeias do interior, era vê-los, ela, lá no alto, no peitoral da janela; e, ele, plantado no caminho, de gorgomilo empertigado, a tentar convencer a donzela (naquele tempo havia muitas donzelas…), das suas genuínas intenções e do seu amor eterno.

Todavia, apesar das barreiras que os separavam, às vezes agravadas pela rivalidade entre famílias ou classes sociais, as coisas não eram assim tão seguras e alguns “acidentes de percurso” faziam as delícias das línguas mais afiadas da terra.

Uma das formas mais usuais para chegar à fala com a mulher amada era a “mensagem”, levada por pessoa de confiança, através da carta cativante.

Em prosa ou em verso, modalidades eficientes, mas só acessíveis aos inspirados poetas ou criativos trovadores, naturalmente, aqueles que tinham maiores probabilidades de êxito.

O rapaz escrevia assim:

Minha rica e adorada, estou de novo a escrever

Quanto mais coisas te digo, mais tenho para te dizer.

Vou-te fazer um pedido, mas não te deves zangar,

É um pedido inocente, que não me deves negar.

Creio que bem adivinhas o que te quero dizer,

Quero pedir-te um beijinho, diz lá se pode ser…

 

A moçoila respondia de pronto:

Recebi a tua carta e fiquei muito zangada

Por me lembrar que de mim queres fazer caçoada.

Eu não posso dar-te um beijo sem conhecer teu amor

Bem sabes que há no mundo muito rapaz impostor.

Depois, não sei que graça um beijo possa ter,

Beijos não enchem barriga, não são coisas de comer.

Por isso, espera mais tempo, não sejas tão apressado,

Quero primeiro saber se és moço sossegado.

 

O rapaz insistia:

Vá lá, não sejas esquiva. Não deves dizer que não.

Um beijo é muito doce e faz maior afeição.

Tu bem sabes que sou homem, que respeito o teu amor,

Sou incapaz nesta vida de te causar uma dor.

 

Ela, cautelosa:

Não desejo fazer coisas de que me possa arrepender

Um beijo só to darei quando muito o mereceres.

 

Ele, desiludido:

Se porém não aceitares o pedido que te faço

À tua porta, meu bem, podes crer, nunca mais passo…

 

Como no conto de fadas, casaram, tiveram muitos meninos e foram felizes para sempre…

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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