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A despedida

11 de maio, 2020

 

Há quase quatro anos atrás, eu jamais teria imaginado que estaria nesta situação.

Comecei por acreditar que me amavas sem fim algum. Acreditei que estaria contigo para o resto da minha vida.

Apesar de todos os momentos em que gritamos, choramos e estivemos sem falar, nós acabávamos sempre por voltar. E era tão intenso… Contigo era sempre assim. Intenso e perfeito. Era perfeito com todas as nossas imperfeições, com as nossas zangas e teimosias que abalávamos de seguida com o nosso amor.

Obrigada por este tempo. Obrigada por me teres feito descobrir como é amar alguém incondicionalmente.

Eu não sei ao certo o que acabou por acontecer, porém, o teu amor esfriou e quando eu me aprontava da cabeça aos pés, tu já não me contemplavas e nem sequer saía da tua boca aquela pergunta retórica que eu costumava ouvir:

“Onde é que tu vais assim toda gira?”

Já não me abraçavas com o mesmo calor nos braços.

Eu sabia que já não podia contar contigo para qualquer coisa. Foi aí que comecei a perceber que eu estava a amar pelos dois e que eu também deveria parar de fazer qualquer coisa por ti, sempre que pedias ou precisavas.

Ainda te lembras da menina imatura, mas que já sabia amar-te tanto e cuidar tão bem de ti?

Lembras-te dela ao teu lado, com as lágrimas nos olhos, preocupada e aterrorizada por te deixar sozinho na cama daquele hospital?

Parecia amá-la tanto…

Lembras-te dela transformada numa mulherzinha mais crescida que se entregou a ti com saudade depois de meses afastada?

Ela desejou sentir o teu cheiro outra vez e quando o inalou, as lágrimas vieram-lhe aos olhos.

– Finalmente. – Ela pensou.

E agora? Eu não sou mais a menina imatura, nem a mulherzinha mais crescida. Agora sou uma mulher a sério, uma mulher que te respeitou e te amou.

Uma mulher a sério que já não é amada por ti.

Porquê que esfriou assim? Como esfriou dessa maneira para ti, quando para mim ainda parece tão forte e verdadeiro?

Fizeste algumas asneiras e mesmo assim eu estava disposta a perdoar e a tentar mais uma vez.

No entanto, nem com o meu perdão tu quiseste voltar, nem com a minha luta constante para que tudo ficasse bem. Apesar de já estar com a alma fraca e despedaçada, eu continuei à tua espera.

Pediste para que eu não te sufocasse.

Sufocar? Já fazem quase dois meses que não te falo. Tu dizes que me amas e depois passas tempos sem me dirigir qualquer palavra.

Como assim eu te sufoco quando nem contigo falo? Quando já passaram esses dois meses em que nos encontrámos apenas duas vezes e mesmo assim mal falamos? Para ti falamos o suficiente.

Não entendo, não entendo como me pudeste deixar nesta ânsia que me tira o sono, nesta angústia, na espera que me enviasses uma mensagem ou batesses à minha porta.

Esperei por um mês seguido, sentada ora no chão, ora no cadeirão da varanda de minha casa. Sabia a que horas saías do trabalho e por isso ficava a partir dessa hora lá fora na varanda à tua espera. Sempre atenta à estrada.

O meu coração saltava a cada carro branco que passava, mas nunca nenhum deles era o teu.

Nunca foste tu.

E com isso a esperança que tu me tinhas deixado acabou.

Percebi que estava cansada quando fiquei para segundo plano vezes sem conta. Percebi que deixara de ser importante para ti.

Chorei por semanas seguidas, não dormi muito e todos os meus sorrisos escondiam o aperto e vazio no meu peito. No trabalho escondia a cabeça quase sobre a secretária para que as lágrimas caíssem sem que ninguém desse conta.

Porquê que eu não fui o suficiente? Eu daria a minha vida por ti. Eu orava por ti.

Pedi sempre a Deus para Ele te proteger em todos momentos, mesmo que para isso Ele não me protegesse a mim.

Eu sempre soube fazer qualquer coisa em casa. Cozinhar, arrumar… achei que isso era um atributo. Sou alguém que trabalha, estuda e faz uma série de actividades honestas para ganhar uns trocos… também achei que isso era um atributo.

Sempre fui a mulher que te respeitou e só teve olhos para ti. Tu eras o meu homem e eu falava de ti com muito orgulho.

Todavia, percebi que não sou nada do que tu queres para ti e nem para a tua vida. Não sou e nem fui o suficiente apesar de todos os esforços.

Nunca pensei que sentiria algum dia o teu desprezo, que me causarias uma dor tão irreversível.

Eu não sou perfeita, nunca fui e nem serei. Sou teimosa, resmungona, cabeça quente, a minha gargalhada é estridente e provavelmente nem estou dentro dos padrões de beleza. Mas apesar de todos os meus defeitos, eu tentei ser o melhor para ti. Eu tentei que me achasses perfeita com todos os meus erros, assim como eu te achava.

Desculpa por não ter sido aquela que faria de ti um homem feliz.

Apesar de tudo isto, eu sei que fui injusta e ingrata comigo mesma ao pisar tanto no meu próprio orgulho, ao me rebaixar tanto por tua causa. Aprendi que as coisas acontecem pelo próprio fluxo da vida e nós não devemos nos esforçar tanto e nem cobrar tanto para que alguém nos dê o valor que tanto merecemos. Obrigada por essa lição.

Resta-me agora erguer esta a minha cabeça tola, esquecer, sorrir, viver e ser feliz!

Vana

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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