Não sou poeta. Apenas tenho a vida como a deles
Assola-me a amargura permanente
A alma, de infeliz, vive contente
E sinto-me, a espaços, são e reles
São, pois, estas tristezas que me embalam
O berço das palavras que é um refúgio
A sina amaldiçoada a que não fujo
Porque as palavras, mesmo mudas, falam
Não sou poeta. Apenas lanço mão desesperado
Das bóias que são verbos recorrentes
De dores passadas, idas mas presentes
Neste naufrágio a que me dou calado
Ai se não fora o berço esquivo das monções
A calma nada mansa das marés
O mundo que se cuida a nossos pés
E a veleidade de sonhar emoções
Não, não sou poeta. Apenas tenho vida semelhante
A espaços, mesmo morto, sinto vida
Tábuas de salvação numa deriva
E a vida lá me leva por diante…
Luís Gonzaga (04/09/2018).