Todos os anos é a mesma coisa. Desta vez apresentas um papel com o que pretendes para 2016 e eu olho-te incrédula. Ainda acreditas nisso?

Todos os anos ao dobrar a noite pensamos que pudemos mudar alguma coisa e que o novo ano será diferente. Que vamos cuidar melhor do nosso corpo e mente, iremos ler o livro cuja leitura se vai adiando, cumprir o sonho que se arrasta, declarar o amor a alguém, comprar o bilhete de avião para aquele local de que falamos todos os natais.

Ao dobrar a noite do ultimo dia, revemos os meses. Queremos continuar o que nos fez bem, esquecer tudo o que nos afundou, ganhar cordas com o que nos deu força, cortar com o que nos enfraqueceu.

Mas…

Não é a noite em que muda o número do ano que nos altera a fadiga ou nos concede o riso. Nem é ela que altera o modo como os dias que pertenceram ao ano velho nos calcinaram a alma com momentos que parecem infindáveis todos eles feitos para não terem horários e demorarem-se para além do que se quer.

Há permanências. Do que foi bom e do que foi mau. E o maior disparate é fazer numa noite que o homem inventou para celebrar, a noite dos relatórios emocionais e das decisões para o futuro. Até porque nem todas as nossas decisões dependem do nosso querer e a vida ensina que a melhor escolha em muitas situações é não fazer planos sequer.

Os deuses riem-se dos festejos. Afinal só se passa de um dia para o outro, tão igual como ponteiros de relógio que não conhecem outra tarefa. O ano novo não passa da soma dos dias que irão envelhecer contigo. Não é ele que irá comandar a tua vida. És tu. Não precisas de uma noite que dobra a madrugada ébria, para decidires o que há muito, sem calendário, está inscrito na tua alma.

Não precisas desta noite. Só da tua vontade. E essa , sabemos, de vez em quando deixa a ancora na areia à espera de marés que deixaram de existir.

Inventa novo oceano. Não esperes pela noite em que o ano muda de número. Esquece o papel e a lista. Começa agora.