De que está à procura ?

Portugal

Há um técnico português na “Guerra à poluição” declarada pela China

Um consultor português na área do ambiente, Renato Roldão, está na linha da frente da “guerra à poluição” declarada pelo governo chinês.

“A China é, provavelmente, o sítio mais aliciante do mundo para quem trabalha nas questões da energia, ambiente e alterações climáticas”, disse o técnico à agência Lusa. “Há muito a fazer aqui nos próximos dez, vinte, trinta anos e esse trabalho tem que ser feito com grande apoio internacional”.

Renato Roldão, 36 anos, licenciado em Relações Internacionais pela Universidade do Minho, vive na China desde 2008.

Especialista em alterações climáticas, Renato Roldão é o único europeu do escritório de Pequim da Inner City Fund (ICF) International, consultora norte-americana a quem a foi adjudicado um projeto de assistência técnica ao desenho e implementação do comércio de emissões de carbono da China.

Trata-se de um projeto considerado “decisivo para reformar a economia chinesa”, desenvolvido com fundos da União Europeia e em colaboração com a Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC), o organismo ministerial chinês encarregue do planeamento económico.

“As experiências de boas práticas acumuladas pelos Estados Unidos, a Europa ou a Austrália são úteis para a China acelerar todo o processo de transição para uma economia mais eficiente no uso dos recursos naturais”, afirma Renato Roldão.

Até ao final desta década – indicou o técnico português – a China toda deverá estar integrado num mercado nacional de carbono: “A lógica é penalizar quem polui, incentivar quem inove”.

Em 2014, pela primeira vez em mais de uma década, o consumo de carvão na China diminuiu e o investimento chinês nas energias limpas, nomeadamente eólica e solar, foi superior ao de toda a Europa.

“As coisas, aqui, estão a acontecer a um ritmo bastante rápido, mas a dimensão do problema ambiental é enorme”, salienta Renato Roldão.

O carvão continua a assegurar 64% da energia do país. Em Pequim e outras grandes cidades, o nível da qualidade do ar está muitas vezes acima dos limites recomendados pela Organização Mundial de Saúde, fazendo da poluição uma das principais fontes de insatisfação popular na China.

O novo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, reconheceu que “em algumas áreas, a poluição do ar, da água e do solo é grave”.

“Iremos declarar guerra à poluição e iremos combatê-la com a mesma determinação com que lutámos contra a pobreza”, anunciou Li Keqiang no primeiro relatório que apresentou à Assembleia Nacional Popular (parlamento), em março do ano passado.

Renato Roldão só começou a interessar-se pela China depois de concluir a licenciatura em Relações Internacionais, em 2001: “Na altura, as referências à China eram mínimas. Os cursos estavam muito focados nos estudos europeus”.

No mestrado, feito na Universidade de Aveiro, com um corpo docente que incluía vários sinólogos estrangeiros, estudou geografia chinesa e em 2002 esteve em Pequim a aprender chinês.

A sua tese, apresentada no ano seguinte, incidiu precisamente sobre as energias renováveis na China e, desde então, continuou “ligado à China e às questões ambientais”.

Há sete anos, partiu para Pequim com a mulher, Ana Magalhães, formada também em Relações Internacionais, e um filho de seis meses: “Sempre pensei trabalhar fora de Portugal, não por necessidade mas por opção”.

“Queria ter uma oportunidade para desenvolver uma carreira internacional”, acrescentou.

A mudança “não foi fácil”, confessa Renato Roldão. A China, no entanto, “é aliciante” e isso – garante – “ajuda à integração”.

Entretanto, esteve também envolvido na criação do Conselho Empresarial da Embaixada de Portugal em Pequim e no dia 10 de junho de 2012 foi condecorado pelo Presidente da República com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Quanto ao que sente mais falta em Pequim, Renato Roldão responde sem hesitar: “Sinto falta da praia, do mar e de alguma boa comida”.

Mas o que já adquiriu, profissional e humanamente, ficará para sempre: “Mesmo que uma pessoa acabe por regressar ao seu país, a experiência internacional só pode acrescentar valor”.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA