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Guatemala – Semuc Champey

Seguramente que as sete maravilhas do mundo são autênticas obras de arte. Arquitetadas e erguidas pelo homem, são um fidedigno pecado para os nossos olhos.

Mas quando estamos perante a natureza, temos consciência que um deus destemido e ousado decidiu esculpir por vezes o impossível. Uma quimera inatingível para o homem, apenas ao alcance de um grande génio.

Semuc Champey é certamente um desses belos exemplos.

Na língua maia, Semuc Champey significa “onde o rio se esconde na montanha“ e é indubitavelmente um lugar divino.

A longa caminhada começou na cidade de Antigua.

Seis horas de viagem onde a progressão era bastante lenta devido às péssimas estradas.

Com tantos solavancos, descansar era uma mera miragem.

Finalmente em Lanquin, o condutor deixou os vários turistas pelas pousadas que tinham reservado e quando chegou ao fim, tinha-se esquecido de mim e da minha colega.

Sem qualquer tipo de culpa por não sabermos onde ficava a pousada, tivemos de voltar para trás a pé, até a encontrarmos.

Lanquin é uma pequena povoação e não tem muito para ver. Serve apenas de ponto de passagem para visitar Semuc Champey.

A nossa pousada ficava um pouco afastada da povoação e para jantarmos tínhamos de levar a lanterna, por não haver eletricidade.

No dia seguinte, acordámos bastante cedo e a nossa viagem até ao parque foi absolutamente alucinante. Apenas dez quilómetros separam esta pequena povoação de Semuc Champey, mas a viagem demorou cerca de uma hora. Uma eternidade para estes míseros quilómetros.

As péssimas estradas em terra batida e pejadas de buracos, eram o dilema para uma locomoção arrastada e prolongada.

Mas nem tudo era mau ou talvez até esteja a ser irónico.

O nosso meio de transporte era uma carrinha de caixa aberta, que não tinha qualquer tipo de assento.

Éramos uns dez mochileiros na parte de trás da carrinha, fazendo toda a viagem em pé.

O único sítio que tínhamos para nos agarrar, era uma barra em ferro no meio da carrinha.

No início, toda a gente sorria com algum entusiasmo. Respirava-se uma certa adrenalina e todo este aparato antevia-nos um dia cheio de aventuras. E assim foi, malgrado o balançar e alguns saltos, devido às péssimas estradas.

Apesar de as paisagens serem magníficas, sentimos um certo alívio por termos chegado ao fim.

O trilho que se seguia até ao miradouro enchia os nossos corações de ânimo, depois de uma viagem bastante atribulada. Mas bastaram alguns minutos para perceber que não iria ser nada simples.

O caminho enlameado e algumas subidas alcantiladas dificultavam uma progressão contínua e regular pela densa selva.

Um esforço penoso e doloroso que acabou por ter um final feliz.

No alto do miradouro, a vista para Semuc Champey era sublime.

Escondido no meio da selva, a natureza gratificava-nos com este tesouro.

Um verdadeiro hino à natureza.

O rio de água verde turquesa, com várias cascatas a formarem socalcos, deixava-nos abismados. As imensas piscinas naturais encaixavam na perfeição naquele puzzle bucólico.

Tudo era perfeito, e até mesmo a imperfeição de estranhas rochas esculpidas ao acaso, tornava-se bela. Provavelmente, outrora, a fúria de alguns abalos sísmicos ergueu estas rochas em vários patamares, formando assim as suas cataratas.

Após este vislumbramento utópico, descemos por uma vereda até ao rio.

A cor da água aliciava-nos para um banho, mas em contrapartida a temperatura da água arrastava-nos para fora. Um convite malicioso, mas rapidamente perdoado pela formosura do lugar.

Havia imensas grutas ao longo do rio e tivemos algumas experiências únicas.

Mergulhámos por baixo do rio, onde tivemos de nadar alguns metros até chegarmos a uma caverna pejada de estalactites.

A última experiência teve um misto de aventura com algumas gargalhadas.

O guia deu-nos uma vela e entrámos numa gruta.

No início tínhamos pé, mas à medida que nos infiltrávamos na caverna, tínhamos de nadar apenas com uma mão, enquanto a outra segurava a vela.

Uma romaria de viajantes em busca de aventura e alguma adrenalina.

Seguindo caminho pelo rio a nadar apenas com uma mão, quando olhámos para trás, estava um holandês a caminhar nas calmas pelo rio. Os holandeses são, por norma, bastante altos e este não fugia à regra. Injusto ou não, a verdade é que uns lutavam com apenas uma mão para seguir em frente, enquanto que este menino passeava calmamente pela gruta com a água a dar-lhe pelo pescoço. Uma valente risada por parte de todos os turistas, que ecoou por toda a caverna.

A gruta era sui generis.

Imensas estalactites esculpiam de forma encantadora o seu interior, mas o toque mágico do deus Midas que transformava este lugar numa pérola dourada, eram as imensas cascatas no seu interior. Nunca tal tinha visto nada semelhante na minha vida.

Semuc Champey é mágico.

Aliás, toda a Guatemala é um paraíso, onde não é preciso mendigar por lugares assombrosos e sublimes.
A cada virar da página, a história repete-se. Venustidade e formosura de mão beijada.

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