Mais de um milhar de títulos foram cedidos a reclusos através de “Janelas para o mundo”, projeto da Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, em Leiria, que se assume como uma “linha de vida” entre quem está encarcerado e o exterior.
Ativo desde o início de 2022, “Janelas para o mundo” fomenta “uma ligação, uma ‘linha de vida’ entre os reclusos e o mundo exterior”, salientou à agência Lusa a vice-presidente da Câmara de Leiria, que detém as pastas da Educação e Cultura, Anabela Graça.
“Alguns reclusos descobrem a leitura na prisão, a leitura ajuda-os a ultrapassar a dificuldade da falta de liberdade, encontram essa liberdade na leitura, liberdade de imaginar e sonhar”.
A iniciativa começou por abranger os presos preventivos do Estabelecimento Prisional de Leiria, a quem foram emprestados 613 livros e revistas até ao final de 2023. Houve ainda 13 tertúlias sobre livros, leituras, autores e acontecimentos em que participaram 126 reclusos.
No final de 2022, a biblioteca municipal estendeu “Janelas para o mundo” até ao Estabelecimento Prisional de Leiria (Jovens), com sete sessões de conversa que envolveram 39 reclusos, tendo sido cedidos 402 livros e revistas.
Procurando reduzir a ociosidade e estimular o uso construtivo do tempo da população reclusa, a Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira procura desta forma cumprir “mais uma das suas missões enquanto biblioteca pública da comunidade do concelho”.
Anabela Graça destacou a importância do projeto para “prestar à população reclusa serviços de promoção da leitura numa perspetiva inclusiva e de educação não formal”.
Ao mesmo tempo que promove a literacia, “Janelas para o mundo” assegura o “direito fundamental dos reclusos a ler, aprender e aceder a informação”.
“No geral, [a iniciativa] foi muito bem acolhida pela população reclusa”, mas o interesse e envolvimento “depende das características pessoais de cada recluso” e, dessa forma, os impactos “são subjetivos”.
A vice-presidente gostava que “Janelas para o mundo” chegasse a “muito mais reclusos”.
“Mas a leitura e o livro não se impõem, sugerem-se, servem de mote de reflexão, espoletam conversas”, defendeu.
Por isso, os encontros mensais realizados entre os técnicos bibliotecários e os presos são a oportunidade para “fazer a diferença, quebrando a rotina, levando livros, falando de escritores, levando pensamentos e visões diferentes sobre a vida e o mundo”.
“Durante uma hora, ouvimo-nos uns aos outros e partilhamos ideias, mas a prioridade é dada ao recluso”, salientou a autarca.
Para o futuro de “Janelas para o mundo”, o município de Leiria considera que “seria muito útil” contar com o contributo de outras áreas disciplinares, para que “auxiliassem nas dinâmicas mensais de interação direta com os reclusos”.
“Gostaríamos de proporcionar outras atividades, mais frequentes e regulares, com estes reclusos e, através da leitura, da escrita e da ilustração, levá-los a conhecerem-se melhor, a exprimirem melhor os seus sentimentos, a entenderem melhor o mundo e os seus semelhantes, a serem pessoas mais positivas, empáticas no regresso às suas famílias e comunidade”, avançou Anabela Graça.
Esta intenção, notou a vereadora, é “fruto de um desafio que um recluso propôs e a ideia tem estado a ser pensada”.
“Talvez possamos ter novidades ainda este ano”, concluiu a vereadora.