Portugal e EUA unidos no estudo doença autoimune rara
Uma patologia autoimune rara e com elevada taxa de mortalidade começa a ser estudada em junho no âmbito de uma parceria internacional que envolve a Universidade de Coimbra (UC) e uma congénere dos Estados Unidos.
A doença anti-IgLON5 está “muito pouco estudada”, sendo necessário “entender as alterações celulares e bioquímicas que ocorrem nos neurónios e que levam à acumulação de neurofibrilas (pequenas fibras que se acumulam no interior das células nervosas), levando à morte neuronal”, afirmou a UC num comunicado enviado à agência Lusa.
Os cientistas de Coimbra recebem da Chan Zuckerberg Initiative “mais de 90 mil euros para investigar processos que levam à morte neuronal em doença autoimune rara”, cabendo igual importância à equipa norte-americana da Northwestern University, liderada por Jeffrey Savas.
A entidade financiadora apoia investigadores de diferentes universidades do mundo, para que, em conjunto, explorem abordagens inovadoras e interdisciplinares para enfrentar desafios críticos nos domínios das doenças neurodegenerativas e da neurociência fundamental.
“Até agora, não foi possível entender as alterações bioquímicas e celulares iniciais que levam à neurodegeneração em tauopatias (doenças neurodegenerativas, como as doenças Alzheimer, Parkinson e anti-IgLON5)”, disse o investigador Luís Ribeiro, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC.
O projeto “Unraveling anti-IgLON5 disease-associated tauopathy with neuroproteomics”, a decorrer entre junho de 2024 e dezembro de 2025, visa estudar mais concretamente a doença anti-IgLON5, uma patologia autoimune rara.
“Nas fases iniciais, manifesta-se como uma doença do sono e do movimento em que, ao nível celular, ocorre acumulação de neurofibrilas, (…) agregados proteicos no interior dos neurónios que levam à sua degeneração”, de acordo com a Universidade de Coimbra.
“Com este estudo, os cientistas esperam também perceber de forma mais geral como é que o cérebro é afetado em doenças caracterizadas por neuroinflamação, perturbações do sono e disfunção cognitiva”, acrescentou.
Para compreender melhor o processo destas alterações, a equipa criará “um modelo de doença em que vai usar autoanticorpos obtidos a partir de pacientes com a doença anti-IgLON5”, explicou Luís Ribeiro, também líder do projeto.
“As pessoas portadoras desta patologia desenvolvem autoanticorpos contra uma proteína da superfície neuronal, a IgLON5, que se julga levarem à formação de neurofibrilas neuronais e, consequentemente, à morte neuronal, mas o mecanismo não é conhecido”, referiu.
Da parte portuguesa, o projeto envolve as investigadoras Ana Luísa Carvalho, também docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Beatriz Marques, Jeannette Schmidt e Maria Ester Coutinho, bem como a estudante de doutoramento Beatriz Ribeiro, todas do CNC.