Lisboa: esculturas homenageiam heróis da pandemia
Duas esculturas em homenagem ao trabalho dos médicos que estiveram na linha da frente na pandemia de covid-19 podem ser vistas a partir de agora no Passeio Carlos do Carmo, em Belém, onde estão viradas para o rio Tejo.
Da autoria do mestre Rogério Abreu, o conjunto escultórico “Heróis da pandemia” foi inaugurado pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, e pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, numa cerimónia em que esteve presente o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, antigos bastonários dos médicos, como Gentil Martins e Germano de Sousa, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, e várias personalidades da área da Saúde.
Durante a cerimónia, Miguel Guimarães referiu que esta homenagem é “o reconhecimento” que a Ordem decidiu que devia ser dado aos médicos, que durante a pandemia tiveram “um papel notável, uma capacidade de liderança, de resiliência, de humanismo, solidariedade, de trabalho de equipa”, que permitiu dar uma resposta adequada aos doentes covid, mas também aos outros doentes.
O conjunto escultórico, feito em aço inoxidável, com aproximadamente 3,50 metros de largura por 1,50 metros de altura, representa as faces de uma médica e de um médico cobertas com máscaras, em que sobressai o olhar que parece brilhar com o sol refletido no rio Tejo.
Para o mestre Rogério Abreu, o local onde as esculturas prateadas foram colocadas não podia ser melhor: “O sítio é sem palavras. É esplêndido”, exclamou à Lusa, confessando que, apesar de ter uma “relação muito grande com o Porto” e que também gostaria de as ter lá, a paisagem de Belém foi “sempre uma paixão”.
Quando questionado sobre quanto tempo demorou a fazer a obra, o escultor respondeu com uma pergunta: “quer a resposta certa ou a resposta errada?”
“A resposta certa será eventualmente desde que nasci até agora” porque, explicou, “há todo um processo de trabalho (…) que leva a chegar a este processo, quer ao nível emotivo, quer ao nível prático”.
Mas em termos de “tempo mais objetivo” foi um ano de processo de trabalho, revelou Rogério Abreu, que se inspirou para fazer esta obra “no empenho dos médicos, entre as diretas que fazem para estarem sempre presentes” e a sua “presença tão humana, cada vez mais necessária na nossa sociedade”.
No seu entender, a obra tem de ser poética: “Se consegui ou não, cada um vai julgar e vai ver de maneira diferente daquela com que a concebi”.
Em declarações à Lusa, Miguel Guimarães referiu que durante a pandemia os médicos mostraram uma capacidade que “as pessoas ainda não integraram verdadeiramente”, dando o exemplo da médica Graça Freitas que teve “um papel importantíssimo” no combate à covid-19.
Prestes a concluir o mandato como bastonário, Miguel Guimarães disse que esta “é uma homenagem que fica”.
“É uma homenagem que eu acho que vem trazer luz a um espaço que é um espaço belo, um espaço de reflexão. Um espaço que também apela àquilo que são os nossos sentimentos mais interiores. E, portanto, estou muito satisfeito”, vincou, agradecendo o apoio do autarca Carlos Moedas, que “desde a primeira hora se mostrou bastante interessado e apoiou imenso este projeto”.
Na cerimónia, Carlos Moedas também enalteceu o papel dos médicos, afirmando que, “mais do que tudo, são a face humana”, que está representada nas esculturas.
“É a face humana que tivemos durante esta pandemia, é a face humana que temos todos os dias nesta nobre arte de ser médico”, disse Carlos Moedas, defendendo que “os médicos precisam, sobretudo, de ter espaço para poderem ser humanos, para poderem exercer a sua profissão com essa humanidade”.
Também presente, o ministro da Saúde classificou de “muito feliz” o momento, que disse ter resultado de uma conjugação de vontades.
Enquanto ministro e médico, Manuel Pizarro deixou o seu agradecimento ao bastonário pela “belíssima iniciativa” que perpetua “de uma forma extraordinariamente emotiva e bela” a pandemia de covid-19, que foi um momento da “vida individual, familiar e coletiva” do país.