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Jérôme Rodrigues: de rosto dos Coletes Amarelos a desempregado

Jérôme Rodrigues, um dos principais rostos dos Coletes Amarelos, está desempregado passados cinco anos, e reconhece que o seu envolvimento no movimento “explodiu completamente” a sua vida pessoal e familiar, mas recusa qualquer arrependimento.

Cinco anos depois de ter sido um dos principais rostos do movimento, Jerôme Rodrigues vive num subúrbio de Paris e reconhece, em entrevista à Lusa, que o seu envolvimento nos Coletes Amarelos acabou por custar-lhe “muito caro”.

“Estragou-me a vida”, resume Jerôme Rodrigues que, numa manifestação em 26 janeiro de 2019, ficou cego de um olho após a explosão de uma granada lançada pela polícia, tornando-o num dos principais símbolos do movimento.

Mutilado, com uma pala ou um penso no olho, Jérôme Rodrigues começou a ser presença regular nos canais televisivos, exprimindo as reivindicações dos Coletes Amarelos, uma situação que, diz agora, fez com que a sua vida pessoal e familiar tenha “explodido completamente”.

“É muito complicado”, afirma.

À Lusa, o rosto dos Coletes Amarelos recorda os tempos em que, antes de se envolver politicamente, era “vendedor de brinquedos” – “vendia ‘Barbies’, ‘Playmobils’, esse tipo de coisas” – e ia “de férias à neve, a Portugal”.

“Vivia normalmente. Mesmo no início, quando entrei nos Coletes Amarelos, vivia bem. Agora, depois de ter lutado pelo aumento do poder de compra, perdi para aí 10 mil euros por ano e já não encontro emprego”, refere, apesar de admitir que a sua situação está a melhorar ligeiramente.

“Tenho um biscate de duas horas por dia que me permite, pelo menos, retomar alguma atividade. Já é bom, porque há cinco anos que não encontrava nada”, diz.

Para Jérôme Rodrigues – filho de um português que imigrou para a França nos anos 70 -, a sua situação atual é consequência direta do protagonismo que adquiriu no movimento dos Coletes Amarelos e em particular da exposição mediática a que foi sujeito.

“Disseram tantas mentiras sobre mim: que era preguiçoso, que punha em causa a segurança da França, que batia na minha mulher, que me drogava… Como é que queres arranjar um trabalho assim? Eu também recrutei para empregos e nunca iria recrutar uma pessoa como eu”, reconhece.

No entanto, apesar da sua situação atual, Jerôme Rodrigues recusa qualquer arrependimento por ter participado nos Coletes Amarelos e ter assumido tanto protagonismo, salientando que, quando decidiu envolver-se no movimento, foi porque estava a constatar “muita injustiça” e sentiu que tinha o “dever de se mexer”.

“Pelo menos, agora, sinto que agi e que tentei fazer alguma coisa para mudar as coisas. Há quem não faça nada, eu pelo menos fiz”, afirma, acrescentando que uma pessoa “nunca pode esquecer-se de onde é que vem”.

“Às vezes, estás habituado a comer carne, e tens de passar a comer massas. Foi o que me aconteceu. Mas nunca nos podemos esquecer das nossas origens, sobretudo se vimos da miséria e conseguimos subir na vida, porque se não, no dia em que voltares a cair na miséria, estás sozinho”, diz.

Cinco anos depois de a sua imagem ter sido um dos símbolos de um dos principais movimentos de contestação internacionais no século XXI, Jérôme tenta agora reconstruir a vida no bairro onde cresceu, nos arredores de Paris, procurando contrariar as “pesadas consequências” que esse simbolismo lhe trouxe.

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