De que está à procura ?

Colunistas

Estudar mais costumava ser sinónimo de mais empregabilidade

© DR

Mariana, Andreia e Pedro não se conhecem. Nem sequer têm a mesma idade. Nasceram a centenas de quilómetros uns dos outros, cresceram em realidades muito diferentes, formaram-se em áreas completamente distintas. Em comum, são da geração que todas as vidas ouviram dos pais e dos avós que era preciso estudar para terem um emprego melhor. Não era apenas um conselho, era uma crença que estava profundamente enraizada na sociedade.

O pressuposto central é o de que os indivíduos mais escolarizados têm emprego garantido porque possuem capacidades produtivas úteis ao mercado de trabalho. Essas competências serão igualmente remuneradas porque garantem mais produtividade no trabalho.

A taxa de abandono escolar tem vindo a cair consistentemente nos últimos 30 anos, passando de 50% em 1992 para 6% em 2022. Os portugueses estão a ficar mais anos na escola e a conseguir níveis mais elevados de escolaridade. 

Em 2021, 36% dos jovens entre 25 e 34 anos tinham completado o ensino secundário.

Simultaneamente, deu-se uma massificação do ensino superior. Entre 2011 e 2021, o número de jovens entre os 25 e os 34 anos, com curso superior, aumentou 20 pontos percentuais para 47,5. E os jovens com mestrado passaram de 4% para 38%.

O resultado é uma geração reconhecida como a mais qualificada de sempre, mas que quando acaba os estudos encontra um mercado de trabalho que parece não estar preparado para os avanços registados ao nível da educação. 

O grande desafio já não está tanto na oferta de qualificações, está na procura. Ou seja, no que estes jovens detentores de qualificações elevadas encontram depois no seu mercado de trabalho.

Presentemente, os jovens enfrentam dificuldades na transição para o mercado de trabalho, quer em termos de oportunidades de emprego quer de qualidade do emprego. Os desafios dependem em muito das áreas escolhidas. 

Há um segmento que está muito bem colocado no mercado de trabalho e é quase imediatamente absorvido após a conclusão dos estudos que é o das ciências, tecnologias, engenharias e matemáticas. Mas há outro conjunto da população que tem bastantes dificuldades, onde a relação entre emprego e formação é menos linear, que é o das humanidades e das ciências sociais.

Em Portugal, 74% dos jovens trabalhadores entre os 25 e os 30 anos tinham contratos a prazo em 2020, face a 36.7% da média da EU.

Em 2020, +50% dos trabalhadores recebiam ordenados inferiores a 1.000 € Brutos/ mês. Entre os jovens, este número sobe para 65%. Acresce-se a isto uma diminuição do prémio salarial associada ao ensino superior. 

Ter uma licenciatura ainda compensa, mas em termos salariais, entre 2010 e 2019, perdeu 15% do seu valor. Em contrapartida, em 2019, os mestres auferiam em média 22% mais do que os licenciados.

Há nas empresas um subaproveitamento do talento. Empurrados pela falta de oportunidades, os licenciados estão cada vez mais em posições antes ocupadas por não graduados. Como resultado, cerca de 30% dos jovens com cursos superiores têm qualificações a mais para os cargos que exercem. Isto acontece porque os sectores que mais têm crescido, em mão de obra e contratação de jovens são pouco intensivos em conhecimento ou tecnologia.

Olhemos para a questão da EMPREGABILIDADE – combinação de fatores como as capacidades especificas do trabalho e competências comportamentais e relacionais, que permitem aos indivíduos entrar e permanecer no emprego, assim como progredir nas suas carreiras.

Em Portugal observa-se um desajustamento estrutural entre as elevadas qualificações que os jovens obtêm e aquilo que as empresas realmente procuram.

Observa-se também a necessidade de uma mudança na cultura empresarial. Hoje, mais do que no passado, os jovens valorizam a conciliação entre trabalho e vida pessoal. Valorizam estar em contextos organizacionais que lhes permitam terem uma vida paralela ao trabalho.

As novas gerações já não se reveem na ideia de que o trabalhador ideal é aquele onde têm de estar disponíveis 24 horas, 7 dias por semana.

Concluindo, nos dias de hoje, a posse de qualificações e competências é uma condição necessária, mas não suficiente, para permitir aceder a um emprego de qualidade.

Jorge M. Fonseca, Partner

GEORGE Executive Advisors

Address: Rua Alfredo Mesquita, 3 – 1ºA   1600-922 Lisbon, Portugal

Mobile/ WhatsApp: (+351) 961 355 424

Email: 

www.george.pt

CAREER CHANGE

“Career Change – get prepared for the second round …!”

Fonte: Jornal Expresso, abril ‘23

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA