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Espera

Coloca a mala na cadeira ao lado da sua, coloca também o casaco. Um hábito desde que tinha descoberto aquela esplanada com o rio aos pés da terra. Desde que ele entrara na mansidão da sua vida. As cadeiras fugiam absorvidas por mãos de jovens que pareciam vir em excursões, catadupas de riso. E ela habituara-se a esperar por ele e a guardar a cadeira. E se alguém vinha com a intenção de buscá-la, ela sorria cúmplice de uma pessoa ainda não presente : “Desculpe, está ocupada”. Uma tontice, sem dúvida. A cadeira ocupada por uma espera?

Há um sol meigo e a esplanada não tem muita gente. Tarde de trabalho, pensa, tarde em que decidiu que não faria nada a não ser um passeio, uma ida até ao local onde se sentava em tardes amenas caindo para o fim do dia, concentradas, tão deliciosamente concentradas na mesa onde apoiava cotovelos e vontade, nas cadeiras onde as pernas pediam mais que conversa.

O rio manso, tão deleitado à cidade. Ouve o telemóvel a tocar. Olha a cadeira a seu lado ocupada com a mala e o casaco. Antes, ouvir aquele toque, quando a cadeira a seu lado estava sem gente, aguardando, dava-lhe um calafrio. Pensava sempre que ele diria não poder vir à última hora. Agora não tenciona atender. Não será ninguém tão importante que lhe corte o momento. A tarde era sua. O rio também e pretendia ficar mais um tempo sentada ali, ocupando duas cadeiras, num egoísmo forte. Talvez lhe perdoassem se soubessem, que a cadeira a seu lado só aparentava o vazio. Ele estava ali sentado com ela. Afinal, cada ser tem os seus fantasmas. Cada ser sabe como eles de vez em quando respeitam hábitos.

E o sol tão meigo beijando-lhe o rosto. Tão compreensivo.

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