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Como o “fenómeno” Halloween tem vindo a ganhar força…

Ultimamente, tem-se ouvido falar muito de Halloween. E, cada vez mais, há festas e jantares temáticos em sua “honra”. Mas que fenómeno é este que tem vindo a tomar conta desta altura do ano? As casas ficam “assombradas”, os fantasmas ganham vida, as bruxas saem à rua e os vampiros levantam-se do caixão… Tudo se congrega naquela que é a noite mais assustadora do ano. Também se comem guloseimas, pregam-se partidas e contam-se histórias de terror. Há cada vez mais Halloween e menos “Pão por Deus”, num fenómeno a que se chama comummente de “aculturação”. Vejamos como tudo começou…

Também conhecido como o Dia das Bruxas, o Halloween é conhecido mundialmente como um feriado que começou a ser celebrado, principalmente, nos Estados Unidos. Porém, hoje em dia ele é celebrado também em diversos outros países, inclusive Portugal, onde hábitos como o de ir de porta em porta atrás de doces, enfeitar as casas com adereços “assustadores” e participar em festas de máscaras tem-se vindo a tornar mais comum.

Mas a sua origem pouco tem a ver com o senso comum de hoje em dia sobre esta festa popular. O Halloween tem as suas raízes não na cultura americana, como muitos pensam, mas no Reino Unido e os eu nome deriva de “All Hallows’ Eve”, sendo que “Hallow” é um termo antigo para “santo” e “eve” é o mesmo que “véspera”. Este termo designava, até o século XVI, a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, celebrado no dia 1 de Novembro.

Já percebemos da etimologia de seu nome, mas outra completamente diferente é a origem do Halloween atual. Desde o século XVIII, alguns historiadores apontam para um antigo festival pagão Celta quando se fala da origem do Halloween: o festival celta de Samhain (termo que significa “fim do verão”). O Samhain durava três dias e começava a 31 de Outubro. Segundo os mesmos, tratava-se de uma homenagem ao “Rei dos mortos” e tinha entre as suas maiores marcas as fogueiras, celebrando a abundância de comida após a época de colheita. Reza a lenda que na noite do dia 30 de Outubro os mortos voltavam a povoar a terra e personificavam a figura do fantasma. O objectivo era que os familiares dos mortos deixassem à porta de casa comida e bebida para a recepção e apaziguação dos espíritos. Nessa noite, os que se atreviam, só podiam sair de casa se estivessem mascarados de fantasma para conseguir passar despercebido entre eles, os “reais”.

Em meados do século VIII, o Papa Gregório III mudou a data do Dia de Todos os Santos de 13 de maio – a data do festival romano dos mortos – para o 1º de Novembro, a data do Samhain. Não há certezas sobre se Gregório III ou o seu sucessor, Gregório IV, tornaram a celebração do Dia de Todos os Santos obrigatória na tentativa de “cristianizar” o Samhain. Quaisquer que fossem os motivos, a nova data para este dia fez com que a celebração cristã dos santos e de Samhain ficassem unidos. Assim, tradições pagãs e cristãs acabaram por se misturar.

O Dia das Bruxas que conhecemos hoje tomou forma entre 1500 e 1800. As fogueiras tornaram-se especialmente populares a partir do Halloween, sendo usadas na queima do joio (que celebrava o fim da colheita segundo o Samhain), como símbolo do rumo a ser seguido pelas almas cristãs no purgatório ou para repelir a bruxaria e a peste negra. Comer era também uma importante componente do Halloween, assim como de muitos outros festivais. Um dos hábitos mais característicos envolvia crianças, que iam de casa em casa proferindo rimas ou rezando orações para as almas dos mortos. Como recompensa, ela recebiam bolos de boa sorte que representavam o espírito de uma pessoa que havia sido libertada do purgatório.

Em 1845, durante o período conhecido na Irlanda como a “Grande Fome”, 1 milhão de pessoas foram forçadas a imigrar para os Estados Unidos, levando consigo a sua história e tradições. Não é nenhuma coincidência que as primeiras referências ao Halloween tenham aparecido na América pouco depois disso. Em 1870, por exemplo, uma revista feminina americana publicou uma reportagem em que o descrevia como feriado “inglês”. E ainda hoje, no outro lado do atlântico, celebra-se igualmente o Saint Patrick’s Day, herdado também da Irlanda.

A princípio, as tradições do Halloween nos Estados Unidos uniam brincadeiras comuns do Reino Unido rural com rituais de colheita americanos. O milho era uma cultura importante da agricultura americana – e acabou por entrar em força na simbologia característica do Halloween “made in USA”. De tal maneira que, no início do século XX, os espantalhos – típicos das colheitas de milho – eram muito usados em decorações do Dia das Bruxas. E foi na América que a abóbora passou a ser sinónimo de Halloween. Uma lenda sobre um ferreiro chamado Jack, que conseguiu ser mais esperto que o diabo e que vagava como um morto-vivo, deu origem às lamparinas feitas com abóboras que se tornaram uma marca “registada” do Halloween norte-americano, marcado pelas cores laranja e preta. Foi também nos Estados Unidos que surgiu a tradição moderna de “doces ou travessuras” (trick or treat). Há indícios disso em brincadeiras medievais que usavam repolhos, mas pregar partidas tornou-se um hábito nesta época do ano entre os americanos a partir dos anos 1920.

Outra celebração que o Halloween tem vindo a aculturar é a do “Dia de los Muertos”, a grande e alegre festa do México. Entre os dias 31 de Outubro e 2 de Novembro, nas casas, praças, ruas e, sobretudo nos cemitérios, adultos e crianças dançam, comem, bebem, fantasiam-se de morte e erguem altares com retratos dos seus mortos cercados com velas, flores e caveiras. São dias de alegria para receber as almas dos mortos que voltam para visitar os seus parentes.
Por tanto, a questão agora é: onde moramos, as pessoas comemoram ou não o Halloween? Em alguns lugares existem festas com nomes diferentes, mas com aspectos semelhantes: contato com espíritos dos mortos, fadas, bruxas e até mesmo anjos demoníacos…

Hoje, o Halloween é o maior feriado não cristão dos Estados Unidos. Em 2010, superou tanto o Dia dos Namorados e a Páscoa como a data em que mais se vende chocolates. Atualmente, é considerada a segunda comemoração com mais adesão, a seguir ao Natal, nos EUA. Ao longo dos anos, foi sendo “exportado” para outros países, entre eles Portugal. Um costume muito recente em Portugal, que data dos anos 1980. “Não terá mais do que 20 ou 30 anos”, afirma o sociólogo Moisés Espírito Santo, acrescentando que os portugueses “aceitaram facilmente o Dia das Bruxas”. A apropriação do Halloween é resultado da globalização que o mundo tem vindo a registar. Num mundo globalizado, com a internet, as fronteiras diluem-se, as identidades tornam-se móveis e os povos adaptam facilmente os costumes de outros povos. Faz sentido? O que importa? Também existe o McDonald’s e a Coca-Cola, ou seja, a pureza cultural nunca existiu, pois segundo Jean-Martin Rabot, docente de Sociologia da Universidade do Minho, “as culturas são o resultado da confluência de vários povos, várias tradições, línguas e crenças religiosas”.

Porém quando o Halloween chegou, já se pedia pão por Deus por cá. Antes de o Halloween ser “importado” pelos portugueses, já existia há vários séculos o pedido de pão por Deus em Portugal. E ainda existe em alguns sítios do Norte e do Centro do país. Um costume que está relacionado com a tradição popular portuguesa de dar bolos secos às pessoas que tinham ajudado nas colheitas. De certa forma, só importámos a palavra Halloween, pois está comprovado que já existia um costume semelhante em Portugal e na vizinha Espanha. Mas sem a parte das travessuras, uma vez que as crianças não ripostam se nenhum doce lhes for oferecido.

Mas é inegável. Em Portugal, há cada vez mais pessoas a celebrar o Halloween. E não são só as crianças e jovens. As escolas promovem concursos e desfiles, os bares e as discotecas organizam eventos. Não é uma novidade tão recente como se julga, mas tem vindo a ser implementado cada vez mais pelo comércio noturno. Por isso, nesta noite, são cada vez mais os portugueses, como eu, que se mascaram para sair à rua e se divertirem, pois é dada a oportunidade para que os adultos brinquem com os seus medos e fantasias de uma forma socialmente aceitável. O Halloween permite subverter normais sociais como evitar contacto com estranhos ou explorar o lado mais negro do comportamento humano. Une religião, natureza, morte e romance. Talvez seja esta a razão da sua grande popularidade…

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