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Visitas inesperadas! 

E regressará um dia, numa manhã de nevoeiro, para salvar Portugal… 

Imaginem vocês, aqueles domingos de preguiça, que a louça do pequeno almoço está na máquina ainda por arrumar e a louça suja do meio dia ainda está na banca. Nós estamos confortavelmente deitados no nosso sofá a dormir daqueles sonos profundos que até nos babamos na almofada. Com a televisão na Netflix, a dar uma série qualquer, em que vimos o primeiro episodio e o resto foi realizado nós nossos sonhos!

E acontece o inevitável, o telefone toca com alguém a dizer “olha daqui a 10 minutos estamos a chegar a tua casa para te visitar!”. Uma onda de emoções nos sobe pela espinha, que nos faz dar um salto do sofá, aos berros para alertamos o resto do pessoal da casa que está no mesmo estado de coma. Cobertores e almofadas voam, corremos aos tropeções para a cozinha a arrumar a louça. Isto tudo ao mesmo tempo que rogamos pragas às visitas inesperadas, apesar de gostarmos muito delas. 

Entretanto tudo feito, e organizado, uma ultima olhadela na roupa de todos para que não haja nenhum inconveniente, porque vamos ser sinceros, dentro das portas de casa anda se como quer! E pronto, toca a campainha, e com um sorriso terno recebemos as nossas visitas:”Olá, que bom que vieram!”…

Quem nunca!?

Aconteceu o mesmo com as irmãs xabreganas do Convento Santa Helena do Calvário.

Reza a lenda, que corria o terceiro quartel do século XVI e reinava o jovem D.Sebastião, e ele decidiu na sua passagem por Évora, visitar o convento. Coitadas das freiras que o seu coma domingueiro foi logo transformado num alvoroço, ou num calvário, com a visita da comitiva. Em certa altura um especialista dos assuntos protocolares, relembrou à abadessa que era importante e habitual oferecer algo que consolasse e refrescasse sua Majestade, sobretudo numa tarde de junho onde o calor denso do alentejo torrava qualquer um. E só para informar os jovens, é que antigamente, os cavalos e charretes não tinham ar condicionado. A abadessa respondeu com um sorriso, que só tinha pão ralo, azeitonas e água, e foi o que foi servido.

E foi muito bem servido, porque sua Majestade D. Sebastião comeu e adorou, que até compensou bem monetriamente as pobres freiras. E elevou o doce com o reconhecimento monárquico, o pão de rala, azeitonas de massapão escurecidas com cacau que fez as delícias do régio senhor e de todos que estavam com ele. 

Esta história dá bem razão aquilo que eu costumo dizer, que ás vezes as coisas que cozinhamos à pressa é que saiem melhor! 

Quer a receita? 

Pão de rala 

Ingredientes:

500 grs de açúcar

500 grs de amêndoas

18 a 24 gemas (conforme o tamanho)

1 limão

250 grs de fios de ovos

1/2 chávena de ovos moles

250 grs de doce de gila

raspas de chocolate (fac.)

farinha

Confecção:

Leva-se o açúcar ao lume com 3 dl de água e deixa-se ferver até fazer ponto de fio (103ºC).

Nesta altura junta-se a amêndoa pelada e pisada e leva-se ao lume até se obter um preparado espesso.

Fora do calor juntam-se as gemas em quantidade sufeciente para ligar tudo bem, a raspa da casca de limão, e leva-se a «espécie» novamente ao lume muito brando, mexendo em movimento de vai e vem até se ver o fundo do tacho.

Se se quiser imitar pão de milho junta-se o chocolate nesta altura.

Deixa-se arrefecer completamente.

Estando a «espécie» bem fria, estende-se com o rolo e um pouco de farinha sobre uma superfície lisa que se possa deslocar (uma rodela de lata ou de madeira por exemplo).

Se a massa, que deve ter a forma de uma rodela, abrir fendas, desfazem-se estas, alisando-as com uma faca molhada em água fria ou quente conforme for necessário.

No centro da rodela colocam-se, em monte e em camadas alternadas, os fios de ovos e a gila, previamente misturadas com os ovos moles.

Cobrem-se estes elementos puxando a «espécie» para cima e dando-lhe o feitio de pão de trigo ou de broa de milho conforme se quiser.

Tem-se um tabuleiro de folha virado ao contrário, untado e polvilhado com bastante farinha (1 dedo).

Cuidadosamente coloca-se o pão de rala, deslocando-o sobre esta farinha, e leva-se a cozer em forno moderado.

Depois de bem cozido, retira-se o pão de rala do forno, mas só se deve tirar do tabuleiro (ou mexer) depois de completamente frio.

*Variantes: Na «espécie» do pão de rala pode ou não entrar chocolate raspado.

As gemas que se juntam à gila podem não ser preparadas em ovos moles, mas juntá-las em natureza à gila e cozidas com esta.

No recheio do pão de rala também podem entrar trouxas de ovos.

Dévora Cortinhal

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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