Cerca de 60 oleiros de Bisalhães, Vila Real, vão ficar com o nome gravado numa bilha de rosca de seis toneladas que se transforma num memorial de homenagem aos que moldaram o barro negro no último século.
A bilha de rosca começou por ser um utensílio que servia para transportar líquidos, depois passou a ser mais usada para fins decorativos e tornou-se numa das peças mais emblemáticas da olaria negra de Bisalhães.
“É um memorial em homenagem a todos os oleiros existentes aqui na aldeia de Bisalhães, no último século. Reúne cerca de 60 oleiros”, afirmou à agência Lusa o presidente da Junta de Mondrões, Félix Touças.
A inauguração do memorial acontece no sábado e está inserida na celebração da classificação pela UNESCO. Foi no dia 29 de novembro de 2016 que foi anunciada a inscrição do barro negro de Bisalhães na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente.
A bilha feita de granito negro fica instalada numa rotunda na entrada de Bisalhães. O monumento pesa seis toneladas, tem dois metros de altura e fica gravado com o nome de cerca de 60 oleiros que moldaram o barro negro e, através do seu trabalho, conseguiram trazer esta arte até à atualidade.
“A bilha de rosca é a referência maior da olaria preta de Bisalhães, destacou o autarca, salientando que se pretende fazer “uma grande homenagem aos oleiros”.
Félix Touças referiu que o trabalho de levantamento dos nomes foi longo e difícil. Atualmente são, referiu, menos de uma dezena de oleiros que trabalham o barro, mas dos mais antigos artesãos são já muito poucos os que conseguem manter a atividade.
“A homenagem que quisemos fazer aos oleiros, apesar de singela, é carregada de simbolismo, pois representa o apreço e o orgulho que temos por todos quantos, ao longo de gerações e gerações, mantiveram viva esta arte secular, que tanto nos caracteriza e singulariza”, afirmou Mara Minhava, vereadora do pelouro da Cultura da Câmara de Vila Real.
A autarca salientou que, após a obtenção da ‘chancela’ UNESCO, se mantém o emprenho em “preservar e valorizar este património ancestral, que é o barro preto de Bisalhães”.
O processo de fabrico desta louça mantém praticamente as técnicas que remontam às suas origens e implica que as peças continuem a ser cozidas em velhinhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, musgo, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra
“Mais de meia centena de atividades foram feitas, umas de caráter material, outras imaterial, para que esta arte ancestral não se perdesse e continuasse a ecoar pelo mundo. Conseguimos cumprir a parte mais difícil do plano de salvaguarda que era formar novos oleiros, pelo que poderá estar aqui uma boa forma de proteger e dar continuidade a este legado”, realçou.
Félix Touças referiu que a classificação trouxe reconhecimento nacional e internacional à olaria preta e atraiu também turistas para a pequena aldeia.
“Tem sido um procurar crescente”, apontou, referindo que a própria aldeia tem sido alvo de melhoramentos, como a requalificação da rua principal, pavimentações, construção de casas de banho públicas, beneficiação da capela e sinalética.
Em Bisalhães, a Junta de Mondrões adquiriu uma casa e um terreno onde quer construir um museu dedicado à olaria preta.
O objetivo, segundo explicou o presidente, será preservar a história e as peças tradicionais, recuperar antigos fornos comunitários, criar também ‘ateliers’ para quem queira trabalhar na olaria e dinamizar o barro preto.