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Última vontade

No meu velório tão só o indispensável
Um padre e um coveiro, nada mais
A campa raza de terra solta, arável
Onde à tarde saltitem os pardais

Os meus dois cães leais ali presentes
Dignificando tristes meu passar
Me velem hirtos como anjos crentes
De que voei para melhor lugar

De mão humana nem uma flor ali
Se ouse alguma vez depositar
Pois quem me não deu flores quando sofri
Imerece também ir-me chorar

Por sobre a campa cruz singela erguida
Dois paus atados rudes como eu sou
Assinalando parca despedida
Do vento anónimo que por ali passou

Deixem as ervas daninhas livremente
Crescer como aprouver ao tempo o viço
E numa tábua escrito simplesmente
“Bendita a hora em que levou sumiço”.

Luís Gonzaga
(22/06/2022)

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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