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Sérgio Jorge: 60 anos de fotojornalismo

Paulista de Amparo, Sérgio Jorge iniciou sua carreira de fotógrafo aos 16 anos de idade, em sua cidade natal. Pouco depois, passou a integrar a equipe de fotógrafos do jornal O Dia, na capital paulista. Em seguida, trabalhou em  A Gazeta e A Gazeta Esportiva. Em 1960, venceu o primeiro Prêmio Esso de Fotojornalismo, por trabalho publicado na revista Manchete, no ano anterior.  Após uma década na Bloch Editores, participou ativamente do projeto de reformulação da área de fotojornalismo da Editora Abril e por mais de três décadas dedicou-se à fotografia publicitária.

Fotos que Contam Histórias60 Anos de Fotojornalismo, uma retrospectiva de suas mais de seis décadas dedicadas ao fotojornalismo, acaba de ser publicada, em luxuosa edição, pela Mogiana Produções Culturais.

Quando a descoberta da fotografia? O que ela significa em sua trajetória?

Descobri a fotografia aos 14 anos, em principio brincando com os amigos. Aos 16 anos, vi que poderia abraçá-la como profissão e assim o fiz. Após os 18 anos, passei a trabalhar profissionalmente.

Que influências lhe foram decisivas no universo da fotografia?

Nos anos de aprendizado, tinha em mãos revistas nacionais e estrangeiras. Ao folheá-las, vendo suas fotos e ilustrações, entrava por completo no desejo de fazer algo parecido. Eram imagens que eu me imaginava estar presente no instante em que foram feitas. Via, assim, que poderia, no futuro, ter o mesmo universo em meu trabalho como fotógrafo.

Em que momento o encontro com o fotojornalismo? O que o diferencia dos outros gêneros de fotografia?

Chegado o momento de meu primeiro trabalho, no ano de 1954, uma grande festa estava ocorrendo em São Paulo. Seus 400 anos, com grandes festejos públicos, fogos noturnos, inauguração do Parque do Ibirapuera. Enfim, um jovem fotógrafo documentava tudo aquilo junto a outros fotojornalistas, conhecendo-os mais proximamente. Logo depois, obtive o meu primeiro emprego, no jornal O Dia, como repórter fotográfico. Fui locado no Gabinete de Imprensa, do Palácio do Governo de São Paulo. Era governador o Dr. Ademar de Barros. Em 1956, passei a trabalhar em uma grande empresa de jornais e rádio, a Fundação Cásper Líbero, lá permanecendo até 1960. Via, desde aquele tempo, os diferentes rumos da fotografia: a jornalística, a social, a amadora, a esportiva, a policial, a publicitária, etc.

Como foram os primeiros anos de atividades, cobrindo eventos esportivos?

Nos anos 1956/60, trabalhando em um jornal esportivo, A Gazeta Esportiva, onde o assunto principal eram os esportes, cobria futebol, boxe, vôlei, natação,corridas de automóveis e a famosa corrida de São Silvestre, que acontecia nos últimos minutos do ano, com mais de 200 corredores internacionais. Foram quatro anos documentando o futebolista Pelé, o pugilista Eder Jofre, a tenista Maria Esther Bueno, o grande corredor Emerson Fittipaldi, entre tantos outros nomes importantes da vida esportiva do país naquele período.

Pode nos contar um pouco das experiências que viveu nas revistas dos grupos Bloch e Abril, entre os anos 1960 e 1970?

Os anos foram passando, chegamos a 1960, um período do bom presidente Juscelino Kubitschek, que em seus quatro anos de governo, entre 1956 e 1960, construiu e inaugurou a nova capital do país, Brasília. Aprovou as grandes indústrias automobilísticas no país. Apoiou a construção naval e cortou com estradas todo nosso território. Exemplo é a Belém/Brasília, com seus 2600 quilômetros, cortando toda a virgem floresta Amazônica. Eu sempre presente em tudo. Previu ainda JK que todo centro de nosso território seria uma grande área agrícola. E hoje isso é uma realidade. Durante o correr dos anos 1960/70, já trabalhando na revista Manchete, acompanhei o dia a dia dos mais importantes acontecimentos do país que, por sorte, tenho em meu foto-arquivo, com seus mais de 120 mil cromos. São essas fotos, com suas histórias, que ilustram o meu livro Fotos que Contam Histórias – 60 Anos de Fotojornalismo, recém-publicado.

Ter recebido o Prêmio Esso de Fotojornalismo (foto abaixo), em 1960, na primeira vez que foi concedido a um fotógrafo, teve algum significado especial?

Voltando no tempo, em 1959, ao adentrar a equipe de fotógrafos da revista Manchete, tive a oportunidade de fazer uma reportagem muito humana e ser o vencedor do primeiro Prêmio Esso de Fotojornalismo brasileiro, no ano de 1960. Trabalho esse que repercutiu mundialmente, sendo publicado em 32 revistas e jornais do mundo, como Life, Look e  Paris Match.

Quando a ideia de fundar o próprio estúdio e dedicar-se à publicidade?

Alvoroço Mundial, o petróleo subia dia a dia. O Brasil enfrentando, desde 1964, um regime militar. O povo brasileiro partia para as ruas em lutas pela sua dignidade. Rádio e jornais amordaçados pela censura e os salários cada vez mais diminuídos pela inflação. Saí da Bloch Editores e, em 1970, fui trabalhar na Editora Abril, na direção do estúdio fotográfico, junto com Francisco Albuquerque. O jornalismo em geral sofria e vi, nesse momento, que a mudança para a foto publicitária seria um bom caminho. Era difícil, mas com bom aprendizado, obteria sua técnica e seria uma nobre sobrevivência para o futuro, já que havia feito estágios, no exterior, com grandes fotógrafos americanos, italianos e alemães. Aprendi qual era a qualidade necessária e parti para a compra de novos equipamentos fotográficos. Em fins de 1974, com meu irmão José Carlos, parti para a montagem de um grande estúdio, onde, com uma equipe de 15 funcionários, atendíamos às agencias de publicidade e clientes de indústrias de um grande Brasil em crescimento. E assim foi até 2005.

Entre as figuras públicas que acompanhou, ao longo de seis décadas de trabalho, alguma que o impressionou de modo mais intenso?

Meu período de trabalho, com mais de seis décadas, é muito longo. Aos 81 anos de vida, posso recordar o contato de algumas pessoas que fizeram parte de meus trabalhos no dia a dia, como os políticos Ademar de Barros e Juscelino Kubitschek. O grande jornalista Assis Chateubriand, o fotógrafo Jean Manzon. Esportistas como Pelé e Eder Jofre, assim como inúmeros outros amigos que vieram no correr dos anos, na fase publicitária.

Como foi aderir à fotografia digital? Que paralelo é possível estabelecer entre ela e a analógica?

Durante todos esses anos passados, eu fiz uso de câmeras de filmes, com revelações químicas, ou seja, do processo analógico, muito poluente e descartado, a partir de 1994, quando se deu o início do processo digital, que eu digo eletrônico, porque tudo parte de energia(pilha elétrica). Logo depois, melhorada a qualidade final em megas das fotografias tomadas em digital, veio sua aceitação mundial. Por si, as câmeras fotográficas digitais oferecem em seu menu tudo que é possível de acertos e automatismos na regulagem da fotografia de alta resolução. Atualmente, estamos incluindo os telefones celulares como um sucessor das câmeras digitais, por tão grande aceitação.Não podemos, no entanto, esquecer o passado, ainda ligado à fotografia analógica, hoje presente junto aos aficcionados membros de clubes de fotografia ou grupos de foto-amadores.

Qual o espaço do fotógrafo na imprensa contemporânea?

Digo sempre que, uma foto, seja lá qual for, sempre contará sua história.  O mais importante é o olhar do fotógrafo, que tem grande mérito em todos os espaços, sejam eles jornalísticos, publicitários, amadores, etc.

Sobre os autores da entrevista: Angelo Mendes Corrêa é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo(USP), professor e jornalista. Itamar Santos é mestre em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), professor, ator e jornalista. 

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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