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Remisson Aniceto: um olhar sensível sobre a condição humana

Os contos e crônicas reunidos no intenso e sensível Leva-me contigo, a Senhora S & outras histórias, publicado pela editora Penalux, em 2016, livro de estreia do escritor mineiro Remisson Aniceto, revelam-nos um prosador de excepcionais qualidades, porém, antes de tudo, um observador raro da essência e das contradições humanas.

As inquietações da vida estão ali retratadas por um astuto intérprete da (des)humanidade que tentamos racionalizar, mas nem de longe damos conta, tal nossa pequenez diante da complexidade que é viver.

Leveza e densidade se juntam nas histórias de Remisson Aniceto, arrebatando o leitor desde as primeiras linhas, numa escrita fluente, despojada de qualquer excesso sentimental ou estilístico, o que não o impede de pintar, com cores fortes, tantas situações pungentes de nosso cotidiano.

Gestado lentamente, “quase a conta-gotas…ou a conta-letras?”, conforme nos revela o autor, logo nas primeiras páginas, temos, nas 23 histórias que compõem o volume, um narrador inquieto em relação a nossos desajustes sociais. Como não nos sensibilizarmos diante da figura humana que dá título a O São- Paulino ou do desabafo contido em O papel fundamental da educação para a política e em A Amazônia padece, para citarmos apenas três exemplos de seu compromisso em refletir sobre seu tempo.

Seja com a poesia e o colorido de O indiozinho que se apagava, a nos possibilitar aquilo que chamo de estágio de encantamento, seja com a narrativa trágica e o suspense de Toc, assim como nas deliciosas e bem-humoradas Rojões e Stand-up no ônibus, temos, nas páginas de Levame contigo, a Senhora S & outras histórias, bela oportunidade de conhecer personagens anônimos, que, no entanto, representam parte daquilo que somos.

Por fim, cremos que em relação a Remisson Aniceto não é descabido associar o que disse mestre Mário de Andrade, numa das cartas que escreveu a Manuel Bandeira: “Se escrevo é primeiro porque amo os homens. Tudo vem disso pra mim. Amo e por isso é que sinto esta vontade de escrever, me importo com os casos dos homens, me importo com os problemas deles e necessidades. Depois escrevo por necessidade pessoal. Tenho vontade de escrever e escrevo. (Isto é pro caso dos versos). Mas mesmo isto psicologicamente pode ser reduzido a um fenômeno de amor, porque ninguém escreve para si mesmo, a não ser um monstro de orgulho. A gente escreve pra ser amado, pra atrair, encantar etc.”

Em 2019, o escritor mineiro teve publicados outros dois livros de sua autoria: Para uma Nova Era, pela editora Patuá, coletânea de crônicas e poemas, e a edição ilustrada, por Thassiel Melo, de seu conto O indiozinho que se apagava, destinada ao público infanto-juvenil, pela editora Coralina.

Remisson Aniceto é também colunista regular do BOM DIA. Pode ler os seus artigos aqui.

Sobre o autor do artigo: Angelo Mendes Corrêa é doutorando em Arte e Educação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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