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Refletir a reflexão

Às 00:00h do dia 5 de Outubro de 2019 começou o chamado período de reflexão. Pede-se a todos os cidadãos, via decreto-lei, que pensem durante mais de 24h em que partido vão votar, e pede-se a todos os partidos e actores políticos que fiquem calados, sem intervir, não vá o diabo tecê-las e os cidadãos ficarem ainda mais confusos do que já estão com semanas de campanha eleitoral.

Quem desobedecer, “é punido com pena de multa não inferior a 100 dias caso seja na véspera da eleição ou com pena de prisão até 6 meses ou pena de multa não inferior a 60 dias caso seja no dia da eleição. Esta proibição abrange toda a atividade passível de influenciar, ainda que indiretamente, os eleitores quanto ao sentido de voto, bem como a exibição, junto das mesas de voto, de símbolos, siglas, sinais, distintivos ou autocolantes de quaisquer listas.”

Na época das redes sociais, em que estamos ligados 24/7 e em que partilhamos todos os pensamentos que nos vêm à cabeça, o estado pede-nos que nos abstenhamos de fazer aquilo que fazemos todos os dias, porque todos somos – sem excepção – atores políticos. Sim, até mesmo aqueles que dizem que não ligam nenhuma à política o são.

O estado que pede à sociedade civil que seja mais interventiva, que participe mais, que assuma um papel de relevo no exercício democrático, obriga-nos a manter o silêncio durante mais de um dia – seja onde for com quem for, porque todos somos potenciais influenciadores.

O tema não é novo, e os exemplos são vastos de quão anacrónico este período de reflexão forçado é, e por isso não os vou repetir aqui.
Já está na hora de o estado acompanhar o ritmo e a realidade da sociedade, naquela que é uma das poucas oportunidades que temos de participar no nosso futuro político. Já está na hora de o estado não nos tratar como pessoas sem convicções que vão mudar o seu sentido de voto porque a tia Guilhermina, apoiante do RIR, nos vai telefonar no Domingo a dizer para votar no Tino, porque ele fala com as árvores e o nosso tio, “Deus o tenha”, também o fazia antes de ficar debaixo de um sobreiro.

Já está na hora, já está mais que na hora, de acabar com o dia de reflexão e o tornar em mais um dia de acção política, com debates onde se respondam às perguntas que ficaram por fazer, onde os candidatos sejam confrontados pelos habitantes dos distritos a que concorrem. com as suas preocupações.

Ao não o fazer estamos a abrir, em cada período eleitoral, este ruído provocado pela obrigatoriedade do silêncio, que nos faz ter ainda mais vontade de discutir política neste período de reflexão, e onde todos arriscamos passar 6 meses a falar com Armando Vara sobre pesca desportiva, só por termos colocado aquela foto do boletim de voto já preenchido no Instagram.

 

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