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Quero mais cinema português no Luxemburgo

No início de dezembro teve antestreia mundial no Luxemburgo um filme realizado por um lusodescendente. “Até para o ano” – que também responde ao título francês “À l’année prochaine” (veja o trailer abaixo) – é o resultado de muito trabalho de Philippe Machado que escreveu e realizou uma obra que levou às lágrimas quase toda a plateia.

Esta projeção foi única, pois o filme não está programado em nenhum cinema do Luxemburgo. Desde a estreia que inúmeras pessoas se interrogam nas redes sociais sobre quando terão a oportunidade de ver “Até para o ano”. A resposta é “provavelmente nunca”. Primeiro, porque o filme tem uma duração inferior a uma hora, o que o coloca imediatamente fora do conceito de longa metragem e os cinemas não gostam de programar obras com esta duração. Segundo, porque no Luxemburgo é muito difícil ver cinema português.

O grupo Kinepolis – que tem o quase-monopólio das salas de cinema no grão-ducado – efetua uma vez por mês projeções especiais de cinema russo e polaco. Então porque razão não há filmes portugueses regularmente em cartaz?

Não é porque nunca ninguém tivesse tentado. Pessoalmente, já tentei convencer quem vai mandando na programação, assegurando-lhes inclusivamente colaboração na seleção e nos trâmites para assegurar a distribuição, mas – como qualquer empresa privada que se preze, cotada na bolsa e tudo – o grupo Kinepolis quer vender bilhetes e obter lucros; e os decisores locais duvidam que o filmes portugueses tenham capacidade para encher salas, alegando que se trata de um cinema essencialmente intelectual.

O mesmo Kinepolis passa cinema em língua portuguesa, mas trata-se de filmes da Disney dobrados. Aliás, essas projeções causaram celeuma pois houve quem se manifestasse contra a “afronta” que é ter cinema falado em português numa sala luxemburguesa, esquecendo que os espetadores têm habitualmente a possibilidade de escolher entre três versões linguísticas (inglesa, francesa e alemã) à qual se acrescenta, muito de vez em quando, a portuguesa.

O filme de Philippe Machado é um bom exemplo de um cinema inteligente que não cede a modas mas que sabe chegar ao público em geral e que poderia encher salas no Luxemburgo e não só. “Até para o ano” tem a vantagem de estar a pregar a convertidos, ou seja, o filme conta a história de uma família de emigrantes que passa os últimos dias das férias de verão em Portugal. Todos nós, expatriados, já vivemos esses momentos de nostalgia, em que a saudade começa a bater ainda antes de nos metermos no carro para voltar ao país onde trabalhamos. Por isso é que esta obra tem sucesso garantido entre os emigrantes. E o jovem realizador, que demonstra bastante maturidade, acrescentou um elemento dramático que ainda nos toca com mais força: a doença de um membro da família.

“Até para o ano” merece ser visto nas salas de cinema do Luxemburgo e de outros sítios onde há emigrantes, mas também em Portugal, para que os nossos amigos e familiares sintam a dor da emigração.

Agora, como fazer para que os cinemas do Luxemburgo queiram projetar películas portuguesas? Muito simples: temos de ir muito mais ao cinema! Há dez anos que a Embaixada de Portugal e o Centro Cultural Camões organizam um festival de cinema português e muitas das projeções contam, muitas vezes, com uma dúzia de espetadores. Se conseguirmos encher mais as salas poderemos provar que há público para ver cinema português. Na estreia de “Até para o ano” que praticamente encheu a maior sala do cinema Utopia, no coração da capital luxemburguesa. Infelizmente, muitos dos espetadores que nessa noite assistiram ao filme de Philippe Machado não iam ao cinema há anos e, alguns, nunca tinham entrado naquela que é uma das mais antigas salas do país.

 

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