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Problematizações sobre essência e aparência

Lobriga-se, filosoficamente, o entrevero ontológico consubstanciado nos compósitos relacionais e complementares, essência/aparência, ideal/real e vida/morte, conciliado por meio do escritor, poeta, dramaturgo e ator inglês William Shakespeare (1564-1616) em sua expressão universal “Ser ou não ser, eis a questão” (To be, or not to be, that is the question) interpretada no solilóquio presente na Cena I do Ato III da Peça Teatral A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca (The Tragedie of Hamlet, Prince of Denmarke) escrita pelo Bardo de Avon entre 1509 e 1601.

Concomitantemente, cabe evocar, neste contexto, a ideia de que “Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer”, sendo a autoria dessa frase atribuída ao mestre da comédia satírica, o dramaturgo e ator francês Jean-Baptiste Poquelin de Molière (1622-1673).

Sob outra perspectiva, o filósofo, ensaísta, romancista, dramaturgo e jornalista franco-argelino Albert Camus (1913-1960) aprofundou este argumento de Molière ao afirmar que “Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer.”

Outrossim, deve-se ratificar neste âmbito o reconhecimento da preponderância da expressão “Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo” (“Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela não salvo a mim”) fomentada na página 322 do livro Meditaciones del Quijote (1914) de autoria de José Ortega y Gasset (1883-1955), ensaísta, jornalista e precursor da vertente filosófica resultante da Escola de Madrid.

Dialeticamente, afirma-se, negando e nega-se, afirmando a inexorável complexidade dinâmica, dramática e dilemática da constituição do ser (e do não ser), das identidades e alteridades, dos indivíduos e das sociedades, e das culturas e realidades.

Correlações entre os escritos de Shakespeare, Molière, Camus e Ortega y Gasset, também reverberam, ecoam, justificam e convalidam de modo sui generis análises, compreensões, interpretações e explicações significativas sobre realidades locais, regionais, nacionais e internacionais, desvelando limites e possibilidades do alcance das teorias e práticas nos tentames de se distinguir (a) o que de fato é do que aparenta ser, mas na realidade não é, (b) o que continua sendo idealizado, porque não se realizou, todavia ao se concretizar deixa de ser abstrato, e o que foi idealizado, porém não se realizou, provocando frustrações devido às expectativas, e (c) os riscos e comprometimentos oriundos das cisões e relações de dominação (dominante/dominado) firmadas entre a razão, os sentidos e as ações.

Logo: Será que a Alétheia (a verdade e a realidade) pode ser plenamente cognoscível? Existe apenas uma verdade/realidade ou verdades/realidades multifacetadas, polifórmicas e multivocais? Há mais de 2.600 anos, que estas e outras questões estão sendo problematizadas pelos Filósofos por meio de diferentes linhas de pensamento, suscitando um debate profícuo, que tem, dentre os seus traços marcantes, ser repleto de querelas e interminável.

Sobre o autor: Charlles da Fonseca Lucas é Professor, Sociólogo e Cientista Político. Autor dos livros Vida e Obra de Norbert Elias nos Planos Filosófico e Humanístico: automodelagem, nacionalidade e formação intelectual e Segurança Pública- Onde está a Polícia que Nós queremos?, ambos publicados pela Juruá Editora, em 2014.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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