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Portugueses na Venezuela falam em clima de impasse pós-eleições

© Lusa

Vários portugueses e luso-venezuelanos disseram esta segunda-feira à agência Lusa estar expectantes sobre o que acontecerá na Venezuela, após as presidenciais de domingo em que Nicolás Maduro foi reeleito para um terceiro mandato de seis anos.

“Temos de esperar, ver o que fará o Presidente. Há muita expetativa principalmente no aspeto económico porque as coisas não estão bem. Apesar de às vezes a economia dar a sensação que vai descolar, melhorar, volta depois a cair e isso causa muito desânimo”, disse um comerciante à Lusa.

Luís Martinho de Sousa, 60 anos, proprietário de um restaurante no leste de Caracas disse temer que uma das futuras medidas seja uma excessiva carga de impostos.

“Já pensei fechar o negócio várias vezes, mas apenas sei ser comerciante. As minhas reservas económicas estão quase ‘na caixa plana’ [a zero] e às vezes tenho de conseguir dinheiro de onde não há para pagar impostos, aluguer, os serviços e os empregados”, disse.

Explicou ainda que a alimentação e os serviços básicos estão cada vez mais caros, o que obriga a pensar no futuro.

“Vivemos sempre iludidos pensando que a economia voltará a ser como era e isso seria o que pediria a Maduro”, frisou.

O luso-venezuelano disse ainda que os comerciantes têm agora de ser muito criativos, sempre com a esperança de que durante algumas épocas as coisas melhorem, como nas férias escolares, no Natal, no Carnaval e na Páscoa, mas que muitas vezes a melhoria registada não compensa os desequilíbrios anteriores.

Proprietário de um pequeno café em Chacaíto, José Gonçalves, 42 anos, teve hoje dificuldades para abrir porque a falta de autocarro impediu a chegada de dois dos três empregados.

“Queremos menos impostos e que a economia melhore. Às vezes nem há dinheiro para pagar o meu salário. O meu carro está avariado há duas semanas e não tenho [dinheiro] para mandar arranjar”, disse, precisando que tem um filho de 7 anos matriculado numa escola privada que às vezes tem dificuldades para pagar.

Maria Eugénia Soares, lusodescendente, 25 anos, ficou dececionada quando soube dos resultados das eleições de domingo.

“Eu tinha a esperança de uma mudança. Com tantos anos governando não acredito que a economia melhore com Nicolás Maduro no poder. Não sou de andar na política, mas até agora as coisas vão sempre ficando piores. Estou desanimada, dececionada, nem tanto porque Maduro ganhou as eleições, mas porque não acredito que as coisas mudem”, disse.

Esta engenheira informática disse que tem ponderado várias vezes a possibilidade de emigrar para a Europa, mas o amor à Venezuela, à família e amigos tem sido a desculpa para não o fazer.

“Disseram-me que em Portugal e na Espanha há oportunidades de trabalho para os engenheiros informáticos, mas emigrar significa deixar tudo para trás para começar uma nova vida noutro sítio. Em Espanha, por falarem a mesma língua talvez seja mais fácil. Em Portugal, tenho a barreira do idioma. Eu entendo, mas tenho dificuldade para falar e fazer-me entender”, disse.

O comércio abriu hoje mais tarde do que o costume em Caracas. Vários comerciantes queixaram-se de que houve falta de transporte, que impediu a chegada de empregados, obrigando vários negócios a manterem as portas fechadas.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou que o Presidente cessante Nicolás Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo com 51,20% dos votos.

Maduro obteve 5,15 milhões de votos, à frente do candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia, que obteve pouco menos de 4,5 milhões (44,2%), de acordo com os números oficiais anunciados pelo presidente do CNE, Elvis Amoroso.

A oposição venezuelana reivindica a vitória nas eleições presidenciais de domingo, com 70% dos votos para o candidato da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia obteve 70% dos votos, afirmou a líder opositora María Corina Machado, recusando-se a reconhecer os resultados proclamados pelo CNE.

Vários países já felicitaram Maduro pela vitória, como Nicarágua, Cuba, China e Irão, mas outros demonstraram grande preocupação com a transparência das eleições na Venezuela além de Portugal, como Espanha e Estados Unidos.

Segundo estimativas dos consulados, estão na Venezuela cerca de 600 mil portugueses e lusodescendentes.

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