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Português a viver há 60 anos na Alemanha recorda percurso de emigração

Gastarbeiter der Bundesrepublik © DR

António Carlos Gomes foi um dos portugueses que, nos anos 60, emigrou para a Alemanha como trabalhador temporário através do programa “Gastarbeiterprogramm” para a reconstrução do país, lembrando a mudança com saudade.

“Se hoje tivesse a mesma idade, voltava a seguir o mesmo caminho”, conta o português de 84 anos, que deixou a Arrentela, no concelho do Seixal, em 1964.

“Colegas meus da tropa tinham ido para a Alemanha para aprender o ofício do aço. Um deles, da Arrentela, já sabia que eu tinha vontade de emigrar. Disse-me que havia muito trabalho na Alemanha e por isso eu fui para Dortmund”, relembra.

Deixou os pais, uma irmã e a namorada em Portugal e partiu sozinho de comboio para o desconhecido.

“Fui o oitavo português a chegar, estavam todos à minha espera na estação. Ao início estávamos oito portugueses numa vivenda. Depois de três semanas, graças a uma amiga, aluguei um quarto só para mim”, descreve.

Devido à escassez de mão-de-obra, nos anos 1950, o Governo da República Federal da Alemanha recrutou trabalhadores temporários no estrangeiro através do programa “Gastarbeiterprogramm” para a reconstrução do país.

Este programa foi iniciado através de acordos de recrutamento bilaterais com a Itália, em 1955, Grécia e Espanha, em 1960, Turquia, em 1961, Marrocos, em 1963, Portugal, em 1964, Tunísia, em 1965, e com a antiga Jugoslávia, em 1968.

Em setembro deste ano comemora-se a assinatura do acordo bilateral entre Portugal e a Alemanha em 1964. As condições que muitos enfrentavam à chegada não eram as melhores, mas a experiência de António Carlos Gomes foi positiva.

“Tive sorte. Correu-me tudo às mil maravilhas. Em Portugal era montador de bicicletas, e fui para a Alemanha para ajudante de serralheiro. Eles ensinaram-me tudo. Tiveram essa paciência. Eu não falava nada de alemão, mas a empresa tinha um intérprete de português”, recorda.

“Ensinaram-me a ser serralheiro, a aprender a soldar. Como gostei daquilo, depois de oito meses fui a Portugal casar e a minha mulher veio também para a Alemanha”, descreve.

Depois chegaram os dois filhos e os três netos, e uma ligação a Portugal que nunca se quebrou, quer pela forte participação associativa, quer pelas visitas frequentes ao país de origem.

“Os meus filhos falam bem português porque em nossa casa era o que se falava. Eu dizia-lhes sempre que a nossa casa é território nacional, fora podem falar o que quiserem”, conta, entre risos.

Longe vão os tempos da mala de cartão, mas António Carlos Gomes continua a viver na mesma cidade que o recebeu há 60 anos, e por lá deverá continuar.

“Todos os anos ia duas vezes a Portugal. Agora, que estou reformado, vou três. Mas já não volto definitivamente, na Alemanha tenho melhor assistência de saúde”, sublinha.

Lamenta que o movimento associativo tenho perdido expressão, mas continua a viver a portugalidade mesmo depois de tantos anos longe.

“Até a minha neta de 24 anos, que não fala português, nos surpreendeu há dias quando cantou o hino de Portugal melhor que muitos portugueses. Disse que aprendeu na internet”, confessa, animado.

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