Portugal e Cabo Verde reforçam ligação através da arte
Um projeto educativo juntou alunos de Grândola (Setúbal) e do Tarrafal (Cabo Verde) e permitiu criar painéis artísticos com materiais características destes concelhos, como a cortiça e a acácia, reforçando a ligação entre ambos os territórios.
O desafio à comunidade escolar partiu da Câmara de Grândola, no âmbito da geminação com aquele município cabo-verdiano, na Ilha de Santiago, para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, tendo coincidido com as celebrações dos 50 anos da libertação dos presos políticos do Campo de Trabalho do Tarrafal.
“Convidámos o Agrupamento de Escolas de Grândola para participar nesta iniciativa e lançámos também o desafio ao município do Tarrafal, a convidar o seu agrupamento de escolas para este trabalho conjunto”, explicou à agência Lusa, a vereadora Carina Batista, da câmara alentejana.
O projeto colaborativo envolveu cerca de 50 alunos do Agrupamento de Escolas de Grândola e cerca de 12 alunos do Agrupamento de Escolas do Tarrafal.
Numa primeira fase, os trabalhos envolveram contactos através das redes sociais, prosseguindo com “a ida de duas professoras de Artes do Agrupamento de Escolas de Grândola” ao município do Tarrafal, precisou.
De acordo com a autarca, as docentes “foram trabalhar com os alunos” do agrupamento de escolas local e, além de “transmitirem os seus conhecimentos, deram-lhes a conhecer o que era a cortiça e outros materiais típicos do concelho” de Grândola.
Ana Jorge, uma das professoras que viajou até Cabo Verde, contou à Lusa que, para este projeto, foram utilizados “os materiais e os recursos locais”, tendo a cortiça sido a ‘eleita’ no caso do Alentejo.
“Fizemos uma breve apresentação do que era a cortiça, porque os alunos não conheciam este material, e desenvolvemos uma espécie de ‘workshop’ para aplicarem as técnicas de colagem e de recorte, recorrendo à nossa cortiça”, relatou.
Segundo a docente, além “da parte artística”, os alunos da Escola Secundária de Chão Bom, no Tarrafal, contribuíram com a cedência das “sementes” de árvore de acácia, que cresce em Cabo Verde.
“A ideia inicial era partirmos do elemento mais emblemático dentro da prisão do Tarrafal”, a acácia, “que era um dos poucos locais com sombra” no campo de concentração, e ”associá-la ao ‘ex-libris’ do Alentejo, que é o sobreiro”, árvore da qual é retirada a cortiça, explicou.
Segundo os promotores do projeto educativo, na Escola Secundária de Chão Bom ‘nasceu’ um painel artístico, enquanto, em Grândola, na Escola Básica 2,3 D. Jorge de Lencastre, foi criado outro painel colaborativo.
Este painel na escola alentejana, com 2,5 metros, contém “várias figuras em cortiça, algumas referências ao campo de concentração do Tarrafal, aos monumentos de Grândola e algumas alusões às letras das canções de Zeca Afonso”, indicou a professora Ana Jorge.