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Por que a luz do seu interior se apaga?

Não posso dizer se a vida mata-me, ou torna-me mais forte!

Inspirado em Friedrich Nietzsche

Viver é um constante desafio. Parecemos malabaristas a equilibrar-nos perante as diferentes situações e sentimentos — alegria, raiva, paz, tristeza, deceção, paixão— que se vão apresentando conforme caminhamos na corda bamba da vida.

Entre um desses sentimentos, temos a frustração. Definida como uma reacção a uma expectativa não correspondida, que emerge ante a impossibilidade de satisfazer um desejo, a palavra frustração, com a sua origem no latim, frustrationem, frustrātiō, significa desapontamento, decepção, que por sua vez está relacionada com frustrō, que significa, enganar, ato feito “em vão”, erro. Eu defino a frustração prolongada como a luz, a energia, do seu interior apagada.

A frustração acontece quando pensou que podia usufruir de algo mas isso não aconteceu. Imagine que tenha comprado antecipadamente um bilhete para ver um espetáculo, e de repente não pôde comparecer ao evento. Ela se manifesta também em situações de desapontamento, como você ter confirmada uma reunião de negócios com um cliente, e após dias de trabalhar numa apresentação para ele, o cliente desiste da reunião. De alguma forma é um nível de insatisfação, de desapontamento passível de ser gerido.

Mas a frustração também pode ser um acúmulo de situações que pensa para si que errou, falhou, que se enganou, somadas ao sal do desgosto, como as coisas não correrem como planeado na sua vida, processos ineficientes no trabalho que o desmotivam, não ser ouvido ou reconhecido pelo seu chefe, ter desentendimentos constantes com o seu parceiro/a ou uma comunicação deficiente com respostas de uma palavra, revirar dos olhos, ou demonstração de desinteresse. Crescemos numa sociedade que apesar de o prazer e a satisfação serem constantemente enfatizados, e a frustração ser vista como a pior experiência que se pode ter, o facto é que, como adultos, psicologicamente saudáveis, sabemos que estamos a nos equilibrar na corda bamba entre os dois lados, alegria-tristeza, encantamento-deceção, para não cair. E nos habituámos tanto a procurar não cair, que de repente a luz interior se apaga.

De que luz apagada eu falo?

É morrer em vida. «Nada fiz. O tempo me fugiu, E à Beleza nem uma estátua ergui! Na mente firme nem credo ou sonho vi, E a alma inútil em vão se consumiu», como escreveu Alexandre Search (heterónimo de Fernando Pessoa) no poema “Morte em Vida”.

É quando arrastamos situações que já nos trouxeram constante frustração, que outrora a raiva, ou o choro nos fizesse exprimi-la, agora, apenas reside o desencantamento, e a tranquilidade da deceção. É quando estamos como que anestesiados emocionalmente, sem sentir prazer no que fazemos, ou na relação que temos. É quando o mau humor já não é mau, porque o humor simplesmente deixou de existir. É a alma que se consome, no tempo que passa, em desencanto consigo, com o outro, com a vida, não usufruindo com entusiasmo cada único momento que a vida lhe apresenta.

É quando desenvolvemos uma elevada resistência as decepções, uma tolerância contínua perante os desfazeres e descasos, evitando, a todo custo, numa pseudo-segurança, “chutar o pau da barraca”, “quebrar a loiça”, pois estamos preguiçosos em nos alegrar, acomodados em nos aventurar.

Quando se atinge esse nível, perante a “red line”, há que urgentemente recuperar a ousadia. É quando chegou a hora de virar a mesa, que por medo, por protelar anos uma decisão, não age com aquilo que está nas suas mãos mudar – o curso, o trabalho, a relação – “afinal, todos os trabalhos são assim mesmo”; “não era exatamente o que eu queria, mas de qualquer forma serve”; “não sou feliz na relação, mas a pessoa não é má”, e assim por diante.

Não queira continuar com a sensação que deveria ter amado mais, ter errado mais, ter arriscado mais. Antes que a energia se esgote, que lhe mate, torne a frustração o seu aliado na mudança, acenda a sua luz.

Karina M. Kimmig

Karina M. Kimmig foi galardoada Top Coach na Alemanha, autora do livro “Metodologia Humanística: Os Sete Poderes que Todos Nós Possuímos”, General manager MORE Institute GmbH, Presidente de associações internacionais, cocriadora da MORE Humanistic Methodology, autora, blogger, e referência internacional em desenvolvimento humano. Mais: https://more-institute.com/

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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