Antigamente, só os ricos tinham automóvel,
então objecto de luxo e de estimação.
Hoje, só alguns pobres não tem automóvel,
objecto útil, de desgrácia, e com interesse.
Antigamente, os fatos só quando velhos,
levavam remendos e fundilhos.
Hoje, já se compram novos com joelheiras
e rasgados, com remendos de cabedal.
Antigamente, as famílias prolíferas viviam felizes.
Hoje, só as pouco prolíferas ou mesmo estéreis
parecem felizes.
Antigamente, as criadas ofereciam-se
e ouviam as senhoras.
Hoje, as senhoras pedem criadas
e aceitam as exigências destas.
Antigamente, liam-se aos serões romances.
Hoje, adormece-se ao som dos anúncios da TV
Antigamente, reuniam-se as famílias
para trocarem ideias e comunicarem.
Hoje, reúnem-se as famílias,
para em silêncio ouvirem a TV
Antigamente, lamentávamos os primeiros cristãos
por viverem nas catacumbas de Roma.
Hoje, andamos de metropolitano,
e terroristas suicidas transformam-nos em sepulturas
e carruagens para a sucata.
Antigamente, os filhos-famílias andavam asseados.
Hoje, os filhos-famílias andam mal vestidos,
porcos, guedelhudos, e outros quase nus.
Antigamente, os pais eram respeitados,
Hoje, os pais calam-se e ouvem os filhos.
Antigamente, os pais eram obedecidos.
Hoje, a maioria dos pais são mandados.
Antigamente, haviam pais que batiam nos filhos
por estes jogarem a bola.
Hoje, há pais que batem nos filhos
por estes não jogarem a bola.
Antigamente, era o verbo que seduzia os homens,
Hoje, é a verba que seduz os homens.
Antigamente, os homens empobreciam com a política,
Hoje, os homens enriquecem com a política.
Antigamente, toda a gente se compenetrava nos seus deveres.
Hoje, ninguém quer compromissos, fala-se só em direitos.
Antigamente, os produtos impunham-se pela sua qualidade,
Hoje, a mídia e a publicidade impõe-nos os produtos.
Antigamente, pedia-se por favor isto e aquilo,
Hoje, exige-se este mundo e também o céu.
Antigamente, a pobreza era envergonhada.
Hoje, muita gentinha e a pobreza são desavergonhadas.