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Poema clássico

Poema de olhos pestanitidos
Conjugado em aventura e fantasia
Lá longe longe longe na Oceânia
Timor da minha juventude e alegria.

Construi palavras de sete e quinhentos
Nadei com peixe da horta e das pianolas
de homens que nasceram intempestivos
de tíbias perónios famílias em salões
bebendo tinto, poncha e chá de tília.

A poesia clássica diz ao mordomo,
não meu amigo. Não era ali que estava
é noutra gaveta. Noutra arrecadação,
mas dentro de mim o poema apertava.

De palavras pouco sei. Mas eu tento
desvendar-lhe o segredo e movimento
se a poesia è gorda ou magra não interessa
não importa. Mas tem que ser clássica
cheirar a Camões a Valgode ora essa.

A poesia clássica rejeita a esmola
a miséria dourada das pessoas sem tecto,
ama a carne da palavra e pastosa consistência
clama luxúria, e erecta presença,
violentando os versos de vinte e cinco tostões.

Com palavras altissonantes e seios de cimento
a poesia clássica que eu não sei, só invento
e tento criar um poema de sangue, fogo e ferro
com matéria bruta que luta e que lavra
expressões de concreto e consistência.

A poesia clássica veste gravata florida
numa camisa branca mal suada.

Talvez no Além-tejo. Não importa, eu sou burguês.
A poesia clássica que invento vai dar ao Vouga
tem cabelos verdes que parecem choupais
gritando, Gralheira! Gralheira! Rainha sem sossego
morta na Póvoa das Leiras tão cedo por amar demais.

José Valgode

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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