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Poder e a guerra da Rússia contra a Ucrânia em plena pandemia

© DR

Estando o mundo ainda em plena pandemia COVID-19, com quase 6 milhões de mortos ao nível mundial, numa fase em que a esperança estava a voltar às nossas vidas, graças aos avanços científicos e tecnológicos e taxa de vacinação, a maturidade e assertividade do comportamento humano parecia estar no bom caminho. Contudo, devido a maus entendimentos e capacidade de comunicação e negociação, luta de egos, acordos mal resolvidos e interesses políticos, económicos, territoriais e geográficos, o mundo vê agora o início de mais uma nova guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

Apesar da história da humanidade ter tido sempre conflitos bélicos, parece que não aprendemos a lição do que foi o Holocausto de Hitler (morte de milhões de judeus pelos nazis) e o Holodomor de Estaline (milhões de ucranianos morreram de fome pelos comunistas), com as suas políticas de governação de extrema direita e extrema esquerda respectivamente. Que não nos esqueçamos do que disse Martin Luther King “o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”.

Deixar os extremos chegar ao Poder deve ser uma preocupação e uma responsabilidade de cada um de nós, enquanto cidadãos em qualquer país, cuja acção começa no acto de Votar em democracia. Esta é demasiado frágil e corre sempre o risco de dar lugar a ditaduras tóxicas e perigosas que só causam dor e sofrimento. É por isso que, quando não gostamos do que vemos à nossa volta, na nossa rua, na comunidade, a mudança começa em nós, com a nossa intervenção comunitária, começando por mudar desde o nosso quarto ou rua, até um dia ganharmos a competência para chegar a poderes maiores, com mais responsabilidade e sentido de Estado para proteger o todo.

Esta guerra entre a Rússia e Ucrânia que começou este mês de Fevereiro deve preocupar-nos a todos, pois, nos dias de hoje, o mundo está todo ligado numa rede visível e invisível entre pessoas, empresas e tecnologias. O mundo é global e o impacto numa parte terá sempre um impacto no todo. Como tudo na vida, e recorrendo à ciência psicológica, a vida não é o que nos acontece, mas antes o que fazemos com o que acontece. Temos, portanto, uma zona de Poder (com Responsabilidade, Culpa e Competência), uma zona de influência (que depende dos contextos e pessoas) e uma zona de Aceitação (que não depende da nossa acção ou influência). As vítimas directas da guerra, nos seus países, são as pessoas com as maiores perdas. Os nossos corações estão junto destas pessoas, patriotas, homens, mulheres e crianças que estão a sofrer deste ataque bárbaro e criminoso.

Esta guerra volta a atrasar o mundo e a aumentar as desconfianças entre países, trazendo instintos primitivos e territoriais básicos e de sobrevivência, numa altura péssima, durante uma pandemia. Estando em Portugal, o Poder de acabar com esta guerra não temos, mas podemos influenciar pessoas e contextos para melhorarem a sua resposta a esta situação, para que nos possamos adaptar melhor. Podemos assinar petições junto dos nossos governos para sanções mais severas, participar em manifestações, escrever cartas ou posts confrontativos, tentar dar apoio virtual ou presencial aos refugiados, entre outras que possamos acreditar com sentido para nós.

Realisticamente, só quem tem o Poder na mão pode mostrar o seu verdadeiro carácter e capacidade de acção para colocar os poderosos que abusam do poder no seu lugar.

O Presidente Ucraniano Zelensky tem-se mostrado ao mundo como um verdadeiro patriota e corajoso exemplar que não abandona o seu país face aos ataques que o povo ucraniano é vítima e forçado a enfrentar. Infelizmente, o mundo está demasiado conectado para acções sem reflexão. Contudo, cada dia sem acção é mais um dia perdido e com mais vítimas para dar espaço ao abuso de poder e invasão da Rússia. O Presidente Putin, cujo percurso e “escola” resulta de uma história de domínio e abuso de poder, e pessoas com esta índole, precisam ganhar noção das consequências dos seus actos para saber se comportar e saiba viver em comunidade.

Juntos somos sempre mais fortes e ninguém pode dizer que o que se passa não o atinge. Como disse o poeta e religioso inglês John Donne no seu livro Meditações VII, há cerca de 500 anos e está mais actual que nunca: “ nenhum Homem é uma ilha isolada; cada Homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório que se perde, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria que se diminui; a morte de qualquer Homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

Deixo duas recomendações de leitura , para lerem de fontes fidedignas do que era a sociedade soviética e das atrocidades destes regimes extremistas:1) “A mais breve história da Rússia: dos Eslavos a Putin” , de José Milhazes – jornalista português da Póvoa de Varzim e correspondente que viveu na Rússia durante décadas – este livro é uma viagem que atravessa séculos da história, cultura e civilização russas, que começa nos povos eslavos vários séculos antes de Cristo e acaba na actualidade, com Putin. O livro tem várias fotografias e mapas, para ficarmos a conhecer a geografia, os povos, as grandes figuras, efemérides e feitos deste país.2) “O arquipélago Gulag” de Soljenítsin (o qual foi escrito clandestinamente de 1958 a 1967, descoberto pelo KGB em 1973, na sequência da prisão de Elizabeth Voronskaïa, uma colaboradora de Soljenítsin que o datilografava. Graças a essa publicação, Soljenítsin, que foi Prémio Nobel em 1970, decidiu e conseguiu, felizmente, publicar o livro no exterior da Rússia. A primeira edição foi publicada em Paris em 1973. Soljenítsin fora entretanto preso, acusado de traição, despojado da nacionalidade soviética e enviado para o exílio, onde estará vinte anos, até ao seu regresso à Rússia em 1994. Este livro  extraordinário de Soljenítsin foi feito graças ao testemunho de 227 sobreviventes dos campos do Gulag).  

Informação é poder e o passado é fundamental não ser apagado para não repetirmos os erros. A história tem que ser compreendida e lida de fontes seguras. Não de posts de redes sociais. Seja exigente nas fontes. Aprofunde.
Mudamos pelo que fazemos.

Um abraço estóico,
Ivandro Soares Monteiro PhD
Psicólogo Clínico doutorado | Psicoterapeuta Certificado
Fundador & Director da EME Saúde (Porto | Portugal)
Professor Universitário (ICBAS, Porto | Portugal)
www.drivandro.com

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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