Paris2024: Filipa Martins fez história para a ginástica portuguesa
Filipa Martins cumpriu esta quinta-feira um sonho ao disputar a final ‘all around’ de ginástica artística dos Jogos Olímpicos Paris2024, sentindo que está a escrever algo histórico na modalidade em Portugal.
Vestida com um fato vermelho e branco brilhante, Filipa Martins voltou a entrar na Arena Bercy para disputar a final do concurso completo, depois de ter feito história de ser a primeira portuguesa a chegar a essa fase.
“Definitivamente acho que foi um sonho realizado, um objetivo que nós queríamos ter cumprido já há muito tempo, por isso poder voltar a entrar nesta arena incrível, foi espetacular, um ambiente incrível”, afirmou, à agência Lusa.
O concurso da portuense começou na trave, num exercício praticamente sem falhas, que lhe permitiu melhorar a nota da qualificação (12.700 na final e 12.600 na qualificação), saindo com um sorriso rasgado no rosto.
Uma música épica levou a portuguesa para o centro do solo, onde um pequeno deslize final lhe tirou alguns pontos, assim como a ‘aterragem’ quase de joelhos no salto, em que voltou a arriscar um novo ‘voo’, tal como na qualificação, saindo do aparelho a encolher os ombros, mas sempre apoiada pelo seu treinador José Ferreirinha.
“Eu acho que não foi um ponto negativo, nós arriscámos muito nos saltos, fizemos um salto novo, como eu já tinha dito antes, era bastante arriscado, por isso, tanto podia correr bem como correr mal”, referiu.
Filipa Martins admitiu que “o corpo demorou um bocadinho a recuperar desde a qualificação” e que os últimos dias foram “duros”, mas mostrou-se muito feliz por ter “conseguido fazer na mesma o salto e não só uma pirueta”.
“Mesmo não tendo corrido bem, por isso, estamos supercontentes por termos conseguido dar tudo na mesma, mesmo que não tenha corrido bem, até às melhores não corre bem às vezes”, afirmou.
A portuguesa despediu-se de Paris no seu aparelho preferido, as barras assimétricas, que concluiu novamente com um sorriso rasgado e um emocionado abraço ao seu treinador.
“Acho que é um bocadinho o dever cumprido, os objetivos concretizados, realizados, foram os nossos melhores Jogos de sempre, não só para mim, não só para os meus treinadores, mas para Portugal, por isso é muito bom eu conseguir também ir escrevendo esta história na nossa modalidade e ir crescendo aos pouquinhos”, afirmou.
Com Simone Biles e Rebeca Andrade a lutarem pela medalha de ouro, nas bancadas a ‘guerra’ era entre os adeptos norte-americanos e os brasileiros, mas sempre que a portuense se preparava para atuar eram bem audíveis uns ‘vai Filipa’ ou ‘força Filipa’.
“Sim, conseguia ouvir muitos portugueses. Na qualificação acho que ouvia um bocadinho mais, mas não havia quase bilhetes para a final, tive muita gente que me tentou pedir bilhetes, mas eu também não tinha acesso. Mas estou supercontente com todo o apoio que tive aqui, com todo o apoio que tenho vindo de Portugal, os vídeos que me têm feito, principalmente alguns famosos, têm sido muito bons”, referiu.
Nos seus terceiros Jogos Olímpicos, Filipa Martins “não estava à espera de ver chegar tanta mensagem positiva”, nem da repercussão mediática que a sua passagem à final teve em Portugal.
“Sei que fizemos algo histórico, mas, para nós, era aquilo que nós tínhamos como objetivo. Nós treinamos muito para isto, assim como treinamos nos outros Jogos e não conseguimos. Para nós, estávamos a conseguir alcançar os nossos objetivos e aquilo que tínhamos traçado para este ano, por isso, não tinha a noção que ia se ouvir falar de ginástica em Portugal inteiro, porque assim muita gente não conhecia a modalidade, por isso foi muito bom”, assumiu.
Aos 28 anos, Filipa Martins começa a ser uma veterana na modalidade – tinha duas ginastas de 16 anos na sua subdivisão –, pelo que não quer já pensar no futuro e se vai conseguir chegar a Los Angeles2028, porque agora quer “recuperar o corpo, tirar umas boas férias”.
“O corpo precisa de estar bem. […] E é diferente, nós já não conseguimos treinar tanto, já não conseguimos recuperar tão bem, não conseguimos ter um descanso tão bom também, mesmo o sono, por isso é tudo mais regrado, é tudo mais difícil e não sei, é daqui para a frente. Agora acho que é aproveitar toda esta experiência, toda a história que estamos a fazer e o que lá vem, lá vem”, concluiu, sempre sorridente.