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Parábola

Daqui não vejo céu nenhum
o sol não cabe na estreita franja
entre o fim da minha vidraça
e o prédio em frente
o tampo da mesa estende-se até
onde espojo a minha exaustão
demasiado cansaço
intempestivo, inopinado.

Qual é a hedionda hipotenusa
desta ogrenta instalação
eu curvado em diagonal
sobre a mesa a imitar madeira
entre a porta de vidro e a janela
depressão, anticiclone, erosão
geografia, geometria dos meus dias
curva plana cujos pontos
equidistam da ponta onde começo
até à extremidade onde findo.
E no meio há o quê?
Puxa da calculadora
ou puxa pela cabeça
ou pela alma
ou pelos dedos
coloca bem a régua e o esquadro
e mede a tua intuição
estica a mente, mais, mais, mais!
Que ideia bastarda!
Mal assumo as horas lentas
o expediente rarefeito
como cada vez mais
o ar deste escritório.
E os ponteiros do relógio
tic tac tic tac tic tac
que passo militar é este
quem decidiu o minuto
e cortou os dias às tiras
e talhou os anos às fatias
e a mim?
Tantas paralelas perdidas.

Os meus dedos dobradiças
hesitam na escada que estala
lá fora o barulho da rua
aqui dentro eu apenas
experimentando furar
as barricadas de mim mesmo
galgando a ciência infusa.

JLC16092019

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