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Obras “perdidas” de Noronha Feio viram exposição em Londres

© DR

Um conjunto de trabalhos deixados para trás num armazém pelo artista plástico Carlos Noronha Feio, após quase duas décadas no Reino Unido, resultaram numa exposição individual a decorrer em Londres.

Durante vários anos, cerca de 40 peças ficaram fechadas depois de a galeria Narrative Projects, que representava o português, encerrar o espaço em Londres e mudar-se para Zanzibar, na Tanzânia, em 2020.

O Brexit, em 2021, também complicou a repatriação do acervo para Portugal, onde Noronha Feio vive e trabalha desde 2019, devido às novas regras para a circulação de mercadorias entre o Reino Unido e a União Europeia.

“Os curadores da exposição acharam piada à ideia de eu ter deixado tanto trabalho para trás e pensaram que seria uma oportunidade muito boa para tentarem ‘coser’ os meus trabalhos de tempos diferentes e de séries diferentes, porque o meu trabalho é muito diverso”, contou o artista à agência Lusa.

O resultado é a exposição, intitulada “My Head is my only House unless it rains” (“A minha cabeça é a minha única casa, a não ser que chova”), aberta ao público até 11 de novembro na galeria SE8.

No pequeno espaço no sudeste da capital britânica estão vários têxteis, uma pintura, colagens, vídeo, três ‘gifs’ (imagens digitais), além de diversos pequenos objetos singulares de coleção pessoal de Noronha Feio, como balas de mosquete.

O artista acumulou ao longo dos anos, por exemplo, diferentes tipos de divisas alternativas e tapetes de guerra afegãos.

Estes tapetes resultaram numa obra original, em 2009, quando Noronha Feio fez desenhos inspirados na história afegã, os quais foram reproduzidos em tapeçarias produzidas pela Casa dos Tapetes de Arraiolos.

Outra das peças em exposição é um quimono japonês de criança do tempo da guerra russo-japonesa de 1939, estampado com motivos bélicos.

“São coisas que têm significado e que informam a minha produção artística, algumas com um valor histórico interessante”, explicou o artista.

O co-curador Nicolas de Oliveira disse à Lusa que foi “estimulante começar com uma premissa muito fraca que era começar com aquilo que sobrou, algo que foi deixado para trás no armazém”.

“Havia imensos objetos fantásticos, porque o Carlos também é um colecionador de obras de outros artistas, objetos muito importantes, porque são objetos culturais. E acho que é isso que torna esta exposição tão relevante”, afirmou.

Segundo Oliveira, “as coisas são culturais, o que significa que não falam apenas de arte, mas falam da forma como o significado é transferido através de artefactos na cultura em geral”.

A exposição foi organizada em conjunto com Nicolas Oxley, com quem também vai produzir um livro sobre a exposição e obra de Carlos Noronha Feio a lançar em dezembro.

Nascido em Lisboa, em 1981, Carlos Noronha Feio mudou-se o Reino Unido em 2000 para estudar, primeiro na Universidade de Middlesex, onde se licenciou e concluiu um mestrado, e depois no Royal College of Art, para realizar um doutoramento.

O artista tem uma obra diversificada que inclui performance, vídeo, desenho, pintura, fotografia, têxteis e instalações.

As suas peças estão presentes em coleções privadas, como a do britânico Charles Saatchi, e institucionais, incluindo do Centro de Arte Contemporânea de Málaga, Museu de Arte do Rio de Janeiro e o Museu Nacional de Arte Contemporânea de Lisboa.

Desde 2006 já expôs individual e coletivamente em países como Reino Unido, França, Rússia, Alemanha, Irão, Áustria, Letónia, Eslovénia, Brasil, entre outros.

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