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O teu sorriso

As linhas do teu rosto assimétrico
distribuem a luz de tal forma
que só lhe posso chamar harmonia,
a não ser que seja amor,
e desenham o teu nariz tão ….
aquilino, não! assertivo, é isso,
e os teus lábios de sede
e os teus olhos de luz,
que eu não vejo rugas
nem pontos nem olheiras
nem cansaços ou desilusões,
o teu rosto é perfeito para mim.

O teu rosto conta-me histórias de nós
noites que já queimámos
como cordas para margens
onde nos extraviamos no caminho
e mesmo calada, fixando-me, dizes-me
dos dias por acontecer, das manhãs
que ainda não romperam,
porvires que tu vês melhor do que eu
porque simplesmente és mais sábia
as mulheres são sempre mais sábias
do que os homens porque não temem
abrir a alma, viajar por medos, esperanças,
sonhos, pesadelos, céus e porões,
e assim alcançam novos sentidos e direcções,
clarividências, sapiências, cognições,
patamares da consciência
de que nós nem desconfiamos
e, irresolutos, ficamos ali assim
sem saber que passo dar a seguir
e respondemos vagamente… hã?

A minha bússola
é esse teu sorriso de luz
que dá ainda mais luz ao teu rosto
e aos teus olhos tantas vezes rasos de água,
mas que tu desvias para eu não ver,
para a tua filha não ver, para ninguém ver.
Eu não vejo, mas sinto, sinto-te sabes…

E, no entanto, apesar dessas manhãs,
incertezas e fragilidades
existe o teu sorriso
que sempre me ofereces
de coração nas mãos e peito forte
esse sorriso sempre, sempre
tão aberto e sincero,
mesmo quando o dia te é cinzento,
o crepúsculo chuvoso
e a madrugada fria e sozinha.
Que força é essa, menina?
Que força é essa, mulher?

Tu, tão tu, sempre tão tu,
és tão bonita, tu, e nem sabes.
Não gostas de espelhos, bem sei
e tens razão, os espelhos não são de fiar
apenas reproduzem, meramente reflectem
repetem, mentem, tentam igualar
por aproximação e assim deturpam a luz.

Mas sabes, tu não és bonita, tu és linda,
porque a perfeição é tão somente um artifício
sobrevalorizado e a natureza
um dado adquirido ainda muito mal calculado.

Tu não és linda, és verdadeira,
és inevitável como as marés,
és força da natureza
vulcão, tufão, ciclone,
cascata que se alevanta,
onda rebentando contra as paredes
estreitas do mundo
espartilhado, complexado,
entabuado, cego, surdo.

Mas tu não és isso, tu és liberdade,
pássaro de fogo que renasceu
voo que se soltou,
grito amordaçado que agora morde,
céu rasgado em fúria,
e com uma só mão
dissipas as nuvens
que quiseram impor ao teu horizonte
e varres num gesto
as contradições que quiseram que fosses.

E eu, eu tão somente um espectador
deste maravilhoso mundo novo
em revolução, expansão, evolução,
E aqui estou porque acredito em ti,
porque sei que contigo
tudo é possível
enquanto me sorrires assim.

JLC28112018

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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