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O passarinho e o pinheiro

O mês de Novembro está quase a ir-se embora, mas como ainda vamos continuar no outono, este conto permanece pertinente. Boa leitura!

O PASSARINHO E O PINHEIRO

Quando chega o outono, o pinheiro e outras coníferas conservam-se verdes, exibindo altaneiros as suas folhas, enquanto todas as outras árvores da floresta perdem as delas. Contudo, há milhões de anos, muito antes de o primeiro homem vaguear sobre a Terra, quando as árvores cobriam todos os continentes, a floresta mantinha-se verde, qualquer que fosse a estação do ano. O que ocasionou então tal mudança?

Na natureza, tudo tem uma explicação científica, e os botânicos e outros estudiosos certamente já se debruçaram sobre o assunto e sabem a resposta, uma resposta totalmente lógica e científica, claro. Mas, e se por detrás de toda essa ciência houvesse uma outra história, mais poética? É o que vos vou contar. 

Numa fria manhã de novembro na floresta, um jovem passarinho saltitava feliz, de ramo em ramo de árvore. A forte geada da noite tinha fragilizado alguns galhos e, por infelicidade, quando o passarinho saltou para um deles, o galho quebrou-se e o passarinho caiu no chão e partiu uma asa. Já não podia continuar a voar de árvore em árvore, precisava de se abrigar do frio e do vento. Viu uma bétula que balouçava o tronco prateado e os ramos flexíveis e perguntou:

– Formosa bétula, deixa-me morar nos seus ramos até à primavera? 

– Não, respondeu a bétula, podias quebrar-me algum dos meus galhos. Vai-te embora!

O passarinho lá foi esvoaçando como podia até à árvore mais próxima, um carvalho frondoso cuja altura sobressaia por entre as outras árvores. 

– Amigo carvalho, disse o passarinho, deixa-me morar nos seus ramos até à primavera?

– Claro que não! respondeu friamente o carvalho, eras capaz de comer as minhas bolotas e os meus rebentos. Já daqui para fora!

O passarinho lá continuou esvoaçando como podia e junto ao riacho encontrou um salgueiro, cujas folhas pendentes pareciam chorar. Era um salgueiro chorão.

– Amável salgueiro, deixa-me morar nos seus ramos até à primavera?

– Nem pensar, disse o salgueiro, não dou acolhimento a estrangeiros. Desaparece daqui!

Triste e desiludido, o passarinho continuou a vaguear pela floresta, esvoaçando como podia. Nem reparou num velho pinheiro senão quando este lhe perguntou:

– Onde vais, passarinho?

– Tenho uma asa partida e não posso voar, mas nenhuma árvore me quer abrigar.

– Nenhuma? Então eu não sou uma árvore? Sou velha, sim, mas acolhedora. Vem para aqui que me fazes companhia e alegras-me com as tuas melodias. Para teu conforto, instala-te do lado do sol, ao abrigo do vento.

O passarinho assim fez. Despeitadas, as outras árvores falavam entre si.

– Não quero ninguém nos meus ramos, podem parti-los, murmurava a bétula.     

– Quanto a mim, resmungava o carvalho, não quero que comam nem as minhas boletas nem os meus rebentos.

– E eu não falo a quem não conheço, choramingava o salgueiro.

Entretanto caiu a noite. Então, o vento Norte, que tinha ouvido a conversa das árvores e do passarinho, começou a soprar com força e o seu sopro gelado fez cair as folhas das árvores, deixando-as nuas e desprotegidas. Só o pinheiro conservou as suas, como recompensa pela sua hospitalidade para com o passarinho.

E é assim que, desde esse dia, o pinheiro permanece verde e com folhas, qualquer que seja a estação do ano.

Quanto às árvores que perdem as folhas no outono, como dizia o sábio Lavoisier “na natureza nada se perde, tudo se transforma”, pelo que as folhas que delas caem vão atapetar o solo, protegendo deste modo flores e sementes e minúscula fauna durante a estação fria. Que bela acção para se redimirem dos seus feios defeitos! 

© Dulce Rodrigues, texto inédito

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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