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O futuro é (finalmente) emocionante: porque não há (boa) transformação sem caos!

Começar o dia é sempre um momento determinante e hoje, confesso que me soube bem! Soube-me a um dia novo, com um pouco mais de esperança, um pouco mais de justiça, um pouco mais de liberdade. Uma janela de oportunidade para o futuro que (todos) merecemos.

 

Começo por Vos dizer que este artigo é uma opinião pessoal, intransmissível e apresenta um ponto de vista absolutamente individual e independente.

Há uma coincidência muito bonita neste Novembro de 2020! Há 4 anos (neste mesmo mês) cruzava-me, pela primeira vez, com a equipa do BOM DIA. Por essa altura era (mesmo) uma miúda, bem sonhadora, já muito crítica e, claro está, com um profundo gosto pela arte de escrever. Foi aí que o BOM DIA me abriu as portas e disse que me queria ler: sim, estenderam o tapete a uma miúda que não conheciam de lado nenhum para ouvir as suas ideias e perspectivas. E eu alinhei.

Nesses mesmos dias, passeava-me pelo Web Summit em Lisboa e sentia-me profundamente inspirada por todos os projetos ambiciosos que ali se concentravam e pela audácia dos que não temiam integrar uma parte considerável dos seus investimentos num evento que podia, simplesmente, não lhes trazer frutos. Mas investiram, compareceram e mostraram livremente as suas ideias inovadoras e tecnologias de ponta.

Nessa altura, para mim, o futuro era absolutamente emocionante e aguardava – com muita ansiedade – novidades sobre o meu próprio caminho. Até que, a meio do Web Summit, em Novembro de 2016, de forma surpreendente, é eleito o novo Presidente dos Estados Unidos da América.

Recordo-me de todos os detalhes: estava hospedada com a minha irmã num hostel no Chiado e passei a noite eleitoral em claro, a fazer refresh no jornais online. Tal como tivemos a oportunidade de ver ao longo desta semana, também em 2016 os jornais cobriam ao minuto a contagem de votos. Passava já das 5 da manhã quando, a meio dessa maratona do abre e fecha separador, me deparo com o inimaginável: o derradeiro vencedor das eleições presidenciais dos EUA.

O dia amanheceu e a insónia e ansiedade vividas madrugada dentro redobraram o peso da noite sem dormir. Um novo dia de Web Summit via o seu início e havia um silêncio perturbador; um espírito estranho naqueles corredores exclusivamente destinados a ser o lugar das conversas e da troca de percepções. Eu sentia-me vergada: aquela notícia foi, para mim, como levar um murro no estômago e sentir o sangue espalhar-se corpo fora sem nada poder fazer. Sabia, perfeitamente, que aquela novidade traria consequências para aquele país e para o Mundo e, jamais imaginaria que cerca de quatro meses depois, partiria para aquele canto do mundo que me acolhe até aos dias de hoje.

Como devem imaginar, in loco é possível percepcionar as coisas de outra forma  e eu acompanhei de perto os últimos quatro anos desta governação: poder-lhe-ia chamar liderança mas, pessoalmente, não creio que o autoritarismo e a arrogância façam um bom líder.

Era estranho ouvir, enquanto o mar nos engolia, que as alterações climáticas eram uma fantochada, que negros e brancos eram semelhantes em forma mas não no que consentia ao direito e oportunidade, que uma nação pensada para todas era agora, somente, destinada a alguns e que os muros se sobreporiam às pontes. Ouvi amigos desesperados a afirmar que queriam dali partir. Mas mantive sempre a esperança porque confio no poder do povo, da minha geração e das que à minha sucederão.

Há uns dias vi uma frase incrível de Deepak Chopra: “todas as grandes mudanças são precedidas de caos”. E por isso é que ontem celebrei, hoje celebrei e amanhã continuarei a celebrar: no fim de contas, o poder das pessoas abriu uma nova oportunidade para o diálogo, para a paz, para a igualdade e para a justiça (social, ambiental, racial, económica). Celebro os que aguardaram a vinda de dias melhores, os que não ficaram sentados e procuraram a mudança e recordo com orgulho a coragem dos que partiram porque o sistema não os soube suportar e considerar.

Sem dúvida que 2020 é um ano marcado por escuridão e mudanças estranhas no quotidiano mas, tal como em 2016, continuo a ser uma sonhadora, uma optimista sem precedentes. Olho para o futuro com entusiasmo e sonho. E acredito que, ainda que não se possa mudar o que está feito, é possível retirar lições e (re)construir melhor.

Celebro por estes dias a minha chegada ao BOM DIA e, quatro anos depois, celebro também aquilo que faltava, aquilo de que o BOM DIA  é tão representativo:  sinónimo de democracia, de voz, de humanidade. Quatro anos depois de estes valores terem sido um pouco retirados ao Mundo, temos agora a oportunidade de olhar em frente e restaurar os bons costumes. Há quatro anos o António Raúl Reis e esta equipa extraordinária acolhiam as minhas palavras; hoje faço das suas as minhas: “que a experiência americana sirva de exemplo”. A todos.

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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