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O fardo dos “pais modernos”

Os pais do século XXI vêem-se a braços com vários dilemas, entre os quais: a conciliação do trabalho com o tempo em Família; abdicar ou não de alguns “luxos”, comuns antes do nascimento dos filhos; e no caso das mães, na impossibilidade de serem “super-mulheres”, a necessidade de optar entre a maternidade ou a progressão e sucesso na carreira profissional.

Não fossem, desde logo, escolhas difíceis, numa sociedade hedonista e egocêntrica, que apela ao consumo e à competição, acrescem outras questões que parecem comprometer ainda mais a qualidade de vida dos pais e a vivência da paternidade com alegria e leveza.

Os “pais modernos” procuram criar filhos perfeitos. As crianças deverão frequentar a melhor escola privada, ser excelentes alunos e os melhores numa qualquer actividade extra-curricular. Não podem chorar ou cair quando são bebés. Devem ser bonitos e sem cicatrizes.

Para além desta procura incessante, mas inglória, os pais deverão seguir o que psicólogos da actualidade propõem, no sentido de manter uma atitude sempre calma e de reforço positivo. Nunca “perder as estribeiras”. Fugir da agressividade. Não repreender com punição física, mesmo que indolor. Evitar assuntos que podem ser penosos, como a morte ou o sofrimento na doença. Evitar comentários menos elogiosos que possam ferir a auto-estima da criança, procurando sempre mostrar-lhe que é brilhante em tudo, mesmo que seja evidente a sua menor capacidade natural para diferentes áreas.

Estes pais trabalham até tarde, procurando cada vez mais rendimentos. Sobrecarregam os filhos com actividades extracurriculares várias, para que sejam competitivos e possam vencer futuramente no mercado de trabalho. Chegados a casa, os filhos cumprem os excessivos trabalhos de casa, seguindo-se o banho, o jantar e o dormir. Não há oportunidade para educar, disciplinar e transmitir valores. Pois, mais do que palavras, ficam o exemplo e as atitudes, a demonstração de afectos e as repreensões nas alturas certas.

Reconhecendo esta ausência, e em claro sentimento de culpa, os pais tentam compensar com bens materiais e distanciamento dos filhos de todo e qualquer sofrimento. Demitem-se das necessárias admoestações e mesmo pontuais humilhações, ocasionalmente representadas na “palmada pedagógica” ou “puxão de orelhas” indolores. Não fica definida uma hierarquia, que exige respeito, autoridade detentora de superior poder físico e moral.

Pois são as adversidades, o sofrimento e a imposição da disciplina, sempre acompanhados de manifestações de amor e carinho, que formarão o carácter dos futuros adultos, preparando-os também para o “mundo real”, incluindo o meio laboral, altamente hierarquizado, que em nada será justo, complacente ou tolerante.

E no ciclo vicioso destas escolhas, os pais acabam por não usufruir do tempo partilhado com os filhos, vivendo exaustos e com receios, afastados da alegria da vivência parental. E o sonho de alguns de constituir uma família numerosa converte-se, por isso, numa miragem, após o primeiro ou segundo filho. É este o “fardo dos pais modernos”.

Joana Bento Rodrigues

Médica. Membro da TEM/CDS.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

 

 

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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