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O Chega e os amigos de extrema-direita

© lusa

Nas últimas eleições legislativas, o Chega teve um resultado surpreendente nos diferentes círculos eleitorais, particularmente do estrangeiro, na Europa e Fora da Europa. Espero que não se repita, porque este partido de extrema-direita não merece a confiança de ninguém. Pelo contrário, merece que as pessoas fujam dele, por ter ideias que corroem o sistema democrático, por admirar autocratas, por ter transformado o Parlamento num circo, por destruir a coesão da sociedade portuguesa e ter como uma das suas principais bandeiras o ódio aos imigrantes, que são pessoas que têm percursos de vida idênticos aos de muitos dos nossos compatriotas que um dia tiveram de emigrar. Além disso, tem imensos casos de deputados e dirigentes que envergonham a democracia.

Porque não se deve votar no Chega, e ainda mais quando se é emigrante? Porque o Chega passa o tempo a enganar as pessoas e a tentar manipulá-las com a sua retórica agressiva e desrespeitosa, sempre a fingir que está indignado para convencer melhor as pessoas. Mas também porque é o espelho de outros partidos extremistas na Europa e no mundo. O Chega e André Ventura elogiam pessoas como Jair Bolsonaro no Brasil, que tentou conquistar o poder pela força e agora está a ser julgado por tentativa de golpe de Estado.

André Ventura nunca escondeu também a sua admiração por Donald Trump e agora o Presidente dos Estados Unidos está a transformar o seu partido numa autocracia, a provocar desordem no mundo, a desrespeitar as nações e os seus aliados tradicionais. Tem atacado as liberdades e a imprensa e iniciou um vergonhoso caminho de perseguição das minorias, através da extinção de todos os programas relacionados com diversidade, equidade e inclusão. Na América de Donald Trump, até os próprios norte-americanos são intimidados só por terem opiniões críticas sobre o presidente e o modo de expressão livre começa a disseminar-se como um cancro.

Porque o Chega sempre foi muito amigo da líder da extrema-direita francesa, que agora foi condenada a quatro anos de prisão por desvio de fundos do Parlamento Europeu. A mesma Marine Le Pen que é amiga da Rússia de Vladimir Putin, que quer destruir a Europa.

E ainda porque o Chega tem grande admiração pelo primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, que transformou o país numa autocracia, naquilo a que eufemisticamente se chama “democracia iliberal”, domesticando os tribunais e o Parlamento, calando a imprensa e os partidos da oposição, enfraquecendo a sociedade civil. Portanto, se o Chega alguma vez chegasse ao poder, a democracia acabaria por ficar em risco, como acontece nos países atrás referidos e até porque os sinais que tem dado são todos nesse sentido, muito particularmente de acabar com o pluralismo democrático e alguns direitos individuais.

Mas há outro fator intrigante. Como é possível que os portugueses emigrados por esse mundo fora, que também sentem na pele o que é ser imigrante, votem num líder e num partido extremista que tem ganho boa parte da sua notoriedade a atacar os imigrantes, dos quais, aliás, Portugal desesperadamente precisa, devido a uma carência dramática de mão-de-obra, de envelhecimento demográfico e sustentabilidade da segurança social? Além disso, a história dos migrantes que Portugal hoje recebe, é muito parecida com a dos milhões de portugueses que tiveram de emigrar em condições de grande incerteza, como se viu pela chamada emigração “a salto” nos anos 60 e 70, com a perigosa travessia clandestina nos Pirenéus.

A outra parte da notoriedade, vem da sua gritaria contra a corrupção, como se não houvesse no país instituições para a combater. E como se fosse aceitável passar a vida a fazer insinuações sobre pessoas, que muitas vezes nunca chegam a ser acusadas de coisa nenhuma. E, como se tem visto, o Chega tem contribuído de maneira vergonhosa para a degradação da democracia portuguesa, bem visível no triste espetáculo que a sua bancada dá no Parlamento.

É por estas razões e por muitas outras que o Chega e André Ventura não merecem a confiança de ninguém. A bem da democracia, da coesão da nossa sociedade, da estabilidade do nosso sistema político e da nossa imagem e prestígio externo.

Paulo Pisco

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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